Cultura

4 de julho de 2022

Júlio de Mesquita Filho um bairro perto de completar 30 anos

Conjunto habitacional já foi considerado o maior da América Latina

O Cruzeiro nos Bairros tem o intuito de mostrar as histórias e belezas das comunidades sorocabanas e como cada uma delas faz de nossa cidade um lugar único. Como dizem por aí: Sorocaba é grande, mas com a cara do interior!

E assim, traremos a cultura, peculiaridades dos seus moradores e do local, inovações e desenvolvimento em cada canto sorocabano! Vem viajar com a gente!

O Conjunto Habitacional Júlio de Mesquita Filho, que inicialmente se chamava Sorocaba 1 e ainda é chamado assim por muitos moradores, teve seu projeto concluído em 1992, no primeiro governo do prefeito Antonio Carlos Pannunzio. Possui mais de 1,3 milhão de metros quadrados e está a 11 quilômetros do centro da cidade de Sorocaba. O Júlio de Mesquita Filho foi considerado o maior conjunto habitacional da América Latina na época. Foram construídas, ao mesmo tempo, 3.506 moradias, 80 terrenos comerciais, 12 áreas institucionais, 49 ruas e sete áreas de lazer. A previsão inicial era que 14 mil pessoas vivessem ali. Nesses quase trinta anos de existência, o Júlio de Mesquita cresceu e hoje tem uma população de mais de 30 mil habitantes.

 família de Maria Cleusa Prado, de 43 anos, foi uma das primeiras a morar na antiga rua 7, hoje Orlando Mas. Na época as ruas eram de terra, o ônibus só chegava até a rua principal, as escolas eram improvisadas e praticamente não havia comércio. Ela afirma que não havia nada no bairro. ‘Os comércios começaram a se instalar através da necessidade das pessoas e a dificuldade para ir buscar produtos em outros bairros, principalmente em dias de chuva, era muito grande. Hoje o comércio tem de tudo o que precisar, os moradores têm bastante facilidade para efetuar suas compras. O bairro se tornou um centro comercial e hoje é suporte para muitos outros bairros que foram construídos em sua volta‘, afirma Maria Cleusa.

Para quem mora no bairro desde o início, o nome Sorocaba 1 não sai da ponta da língua, assim como as ruas, que antigamente eram conhecidas por números.

‘Os moradores raiz não usam muito o nome Júlio de Mesquita e sim Sorocaba 1, que foi o primeiro nome do bairro. O mesmo acontece com a identificação das ruas. Parece uma forma de pertencimento, falar que eu sou daqui desde sempre. Talvez as pessoas que moram há muito tempo nem percebem isso, mas eu que passei tempos fora, consigo sentir isso e sinceramente, acho muito legal. Chega a ser nostálgico, porque se você conversar com uma pessoa e ela falar que morava na rua 2 do Sorocaba 1, sabe que ela viveu a mesma história que você e a identificação é imediata‘, conta Maria Cleusa.

Apesar de não morar mais no bairro, mas estar sempre presente devido a projetos sociais, foi Maria Cleusa quem idealizou a comemoração dos 25 anos do bairro, que resultou em uma mostra fotográfica exposta na Câmara Municipal, com imagens do início do bairro e de moradores. ‘Foi um sucesso e agora estou organizando a comemoração dos 30 anos que será em novembro. Além da exposição que fizemos na comemoração anterior, teremos um documentário sobre o bairro. Tenho um Instituto de Desenvolvimento Social e no próximo mês estaremos inaugurando a sede também no bairro‘, explica.

Infraestrutura

André Prestes Camargo, 42 anos, que mora há 30 anos no bairro, também conta que não houve iluminação nem asfalto por muito tempo. O asfalto começou a ser feito após uns cinco anos da inauguração do bairro.

‘O asfalto chegou no bairro somente depois do ano 2000 em todas as ruas. A iluminação total só foi chegar mesmo depois que todas as ruas já estavam asfaltadas, algumas ruas que possuíam grande concentração de movimento receberam iluminação antes do asfalto ser instalado nelas‘, explica André.

Poucos anos depois, foram construídas duas escolas de madeira, chamadas Itanguá 1 e Itanguá 2, onde estudavam cerca de 5 mil pessoas. A Itanguá 1 hoje é a escola Rafael Orsi Filho e a Itanguá 2 é a Antônio Vieira Campos. Atualmente tem uma creche também. Por isso, os moradores dizem que é o complexo estudantil do Júlio de Mesquita: a escola estadual, a municipal e a creche.

O morador Vinícius Sampaio, que se mudou para o bairro aos 11 anos e estudou na escola quando ainda era de madeira, conta que ‘por volta de 1996 foi entregue a primeira escola de alvenaria, e na sequência entregaram a segunda escola de alvenaria, quase no mesmo período em que as esolas de madeira pegaram fogo”, falou o morador.

A primeira porta comercial do bairro, segundo André, foi uma locadora de vídeos. ‘Na época, a maioria dos comércios ficava nas garagens dos moradores. Cada um abria a sua janelinha e vendia por lá‘, afirma.

O posto de saúde começou a funcionar junto com o bairro, em 1992, atendendo a região. Mesmo com os bairros vizinhos crescendo, ele não acompanhou a mudança.

A primeira feira livre do bairro foi implantada por volta de 1994. ‘Quando a feira livre acontecia na rua Professora Maria Augusto Keller, era muito boa e movimentada, mas a partir do momento que a colocaram ao lado da escola municipal, próximo à igreja presbiteriana, ficou menor e deve acabar‘, afirma André.

Segundo André, a maioria faz compras, atualmente, no varejão implantado em 2002. ‘O aumento do varejão foi grande e no espaço onde ele fica já quase não cabem as barracas‘, afirma. A feira livre acontece aos sábados e o varejão no domingo.

Curiosidades

O bairro já teve sua escola de samba, a ‘Dragões de Mesquita‘. Os participantes eram pessoas que já tinham participado de outras escolas de samba de Sorocaba e de cidades da região. Além disso, os jovens do bairro chegaram a montar um time de hóquei sobre patins de rodinhas.

Havia uma pista de motocross no Júlio de Mesquita, atrás do complexo estudantil, quando Sorocaba participava do campeonato nacional da modalidade. André conta que um morador fez uma mobilização em forma de protesto para que as competições na pista fossem encerradas e hoje em dia só há mato no local. ‘Todos os torneios eram de entrada gratuita, de âmbito federal e estadual, chegando a ter mais de 15 mil espectadores‘, conta.

‘Mesmo com o amparo da Prefeitura, o bairro é o que é por conta dos moradores, que o fizeram ser como é atualmente, graças as três gerações que lutaram para que as coisas evoluíssem‘, afirma André.

Nesses trinta anos de existência, foram muitos os protestos feitos por moradores para que se conseguisse um transporte coletivo mais eficiente, para que as ruas de terra fossem asfaltadas e que o Júlio de Mesquita recebesse toda a sorte de melhorias. Alguns protestos tinham um certo tom de ironia. Um dos moradores aproveitou uma poça enorme de água, no buraco de umas das ruas, para colocar uma placa proibindo as pessoas de pescarem e nadarem no local.

‘As melhorias começaram a vir por conta das cobranças feitas junto à Prefeitura. Era horrível, quando chovia virava barro e os ônibus não conseguiam completar o trajeto. Em vista do que era, hoje estamos no céu‘, ressalta Gilda Soares, de 68 anos, que mora no bairro há cerca de oito anos, mas tem casa desde o início da implantação do conjunto.

O Júlio de Mesquita nos dias de hoje

Maria Cleusa diz que atualmente o bairro tem muitos pontos positivos. ‘Um deles é a facilidade de ter de tudo e não precisar necessariamente ir ao centro da cidade para buscar, e ainda temos um pouco da tradição de ser presente com a vizinhança. Apesar de cada vez mais as famílias se isolarem em suas casas, o bairro ainda resiste ao bom convívio com os vizinhos, principalmente no verão. Com os dias quentes, as famílias se reúnem em frente às casas para conversar‘, conta ela.

Saúde e Bem-estar

Um dos pontos considerados positivos no bairro foi a transformação do atendimento da Unidade Básica de Saúde (UBS) em Pronto Atendimento (PA). A UBS está funcionando como PA, das 19h às 7h de segunda a sexta-feira e 24 horas nos fins de semana e feriados. Como UBS, atende das 7h às 19h de segunda a sexta-feira.

“Foi muito boa a transformação da UBS em PA”, declarou o morador Luciano Aves de Araújo, pastor há quatro anos que auxilia a Igreja Batista Filadélfia.

A moradora Héryca Sato, 41 anos, técnica de enfermagem, bombeira civil, pai e mãe de dois filhos, mora há 12 anos no bairro e atualmente é síndica do bloco G01 e do G03 no Residencial Benedicto Cleto, que ao todo tem 608 apartamentos, Héryca afirma que o bairro está sendo mais observado e os moradores ouvidos. “Aqui no residencial conseguimos a individualização dos hidrômetros, questões da CPFL e uma área de lazer que será construída. Tudo o que conseguimos foi por empenho dos moradores e auxílio da Prefeitura de Sorocaba”, ressalta.

O anúncio do início do processo para individualização dos hidrômetros do Residencial Benedicto Cleto aconteceu em outubro de 2021.

O empreendimento, também conhecido como ‘Sorocaba G‘, é considerado de interesse social, voltado para famílias em situação de vulnerabilidade social. Foi edificado em 1998, conforme programa da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), órgão ligado ao Governo do Estado.

A individualização dos hidrômetros, custeada integralmente pelo Poder Público, está assegurada pela Lei nº 12.300/21, sancionada em maio de 2021. ‘Por se tratar de famílias de baixa renda, todo o custeio da individualização dos hidrômetros será feito pelo Saae, dentro das suas condições financeiras, conforme prevê essa nova legislação. Assim, cada morador vai pagar na conta de água, de fato, apenas pelo volume que consumir no mês‘, destacou o prefeito Rodrigo Manga.

Héryca também conta com a ajuda da Prefeitura, dos outros síndicos do residencial e de mais uma equipe de colaboradores que fazem doações e realizam festas beneficentes para crianças e jovens do bairro. “Precisamos ajudar nossas crianças e jovens, ajudaria ter apoio de entidades e órgãos da área, mostrar que estamos dispostos a ajudar. Para os jovens seria importante ter cursos para que saiam das ruas, dar apoio aos viciados em drogas e outras obras sociais aqui no Benedicto Cleto”, declara Héryca.

Outras transformações

Além disso, houve as revitalizações das praças da Bíblia e na Júlio de Mesquita Filho e a implantação de um ecoponto no bairro.

“Os espaços de convivência estão sendo revitalizados dando opção para as famílias levarem seus filhos, além disso é muito importante termos o posto de saúde transformado em PA 24 horas, foi uma melhoria muito considerável”, afirma Maria Cleusa.

A revitalização da Praça da Bíblia foi entregue em abril deste ano pela Prefeitura, com serviço de paisagismo, instalação e pintura de gradis na praça. O monumento da Bíblia foi doado pela empresa Aurora Eadi.

O pastor Luciano, que atua na Igreja em frente à Praça da Bíblia, disse que a reforma da praça foi bastante importante. “A Praça da Bíblia passou por uma reforma grande, foi feito o monumento, que anteriormente era no centro de Sorocaba. Tinha um requerimento de um vereador desde 2008, que nós pedimos para que o monumento ficasse aqui em frente à nossa Igreja, dessa forma obtivemos o direito de usar o nome da Praça da Bíblia aqui”, explica Luciano.

Já a Praça ‘Júlio de Mesquita Filho‘ foi revitalizada e entregue no dia 18 de março. Foram realizados serviços de roçagem, reparos de calçadas, além de uma quadra poliesportiva, academia ao ar livre, playground e iluminação com tecnologia de LED.

As melhorias foram feitas graças à parceria público-privada com a City Transportes, que contribuiu com a instalação dos brinquedos e com a iluminação em LED, mais moderna, econômica e eficiente. “Para a nossa empresa , é um prazer poder estar, mais uma vez, ao lado da Prefeitura de Sorocaba, proporcionando essas melhorias, pois temos a certeza de vão impactar positivamente também na qualidade de vidas das pessoas”, resslatou o representante da City Transportes, Marcos José Manzzoni.

“Encontramos esta praça em situação de abandono e, graças ao apoio da iniciativa privada, que participa do programa Cidade Linda de Verdade, em pouco tempo, conseguimos mudar totalmente o local e proporcionar à população mais um espaço de lazer, do qual todos poderão usufruir‘, resumiu o secretário municipal de Serviços Públicos e Obras, Darwin de Almeida.

Os moradores do Júlio de Mesquita pediam também a reativação de um ecoponto no bairro. No local, as pessoas podem depositar gratuitamente até um metro cúbico de entulho de obras, madeiras de construção civil, móveis velhos, recicláveis, resíduos eletrônicos e eletrodomésticos, o que equivale a, aproximadamente, cinco carrinhos de mão. O poder público municipal fez a instalação e o serviço já funciona.

O espaço é cercado, tem controle de acesso dos cidadãos, recepção, contêiner com banheiro, iluminação em LED, paisagismo e dispõe de vigia 24 horas e de câmeras de videomonitoramento. O material depositado no Ecoponto será transferido para o Aterro de Resíduos Inertes. Lá, uma cooperativa fará a triagem, para garantir o destino adequado e ambientalmente correto aos diversos materiais.

“Foi muito bom ter o Ecoponto de volta no bairro de forma controlada e espero que o projeto continue e aumente cada vez mais”, afirma o pastor Luciano.

Além disso, os moradorestambém solicitaram mais infraestrutura para a feira livre do bairro e um banheiro contêiner foi instalado pelo Poder Público, beneficiando feirantes e frequentadores.

O pastor Luciano apontou alguns desafios a serem superados no bairro. Entre eles citou mais especialidades no P.A. 24 horas, o retorno do antigo posto policial que foi retirado e uma promessa antiga de outros governos sobre uma via de ligação do Júlio de Mesquita a outros do entorno.

Sobre o PA, a Prefeitura de Sorocaba esclareceu que a unidade do bairro está com sua composição clínica completa, mas que pretende ampliar o atendimento com a contratação de mais médicos.

Sobre o retorno no posto policial, a Prefeitura informou que é de responsabilidade da Polícia Militar, mas explicou que a Guarda Civil Municipal (GCM) faz rondas diariamente para checar denúncias de pancadões, perturbação do sossego e outras irregularidades.

Com relação a abertura de acessos a outros bairros, a Prefeitura explicou que o projeto está nos planos da atual administração. A solução encontrada foi a construção de uma ligação entre o Residencial Torino e o bairro Wanel Ville. “A obra será executada com recursos de financiamento externo, já aprovado pela Câmara Municipal e que está em vias de ser assinado pela Administração Municipal. O projeto já está pronto e a obra visa desafogar o tráfego nos principais corredores de acesso nessa região da cidade”, informou a Prefeitura.

O Júlio de Mesquita vai completar 30 anos em novembro. O bairro mudou muito em três décadas de existência. Problemas sérios deixaram de existir, mas outros apareceram. O importante, nessa trajetória, é que os moradores sempre souberam lutar por dias melhores. E já conquistaram muitas vitórias. (Cruzeiro do Sul)