Cultura

1 de agosto de 2022

35 anos depois, ‘Sandman’ se tornou atual, analisa Neil Gaiman

Sandman toca em temas como morte, mudança, poder, esperança, criação de narrativas, beleza e dor de ser humano

Neil Gaiman gosta de dizer que, por 30 anos, sua missão foi impedir que más adaptações de Sandman chegassem ao cinema e à televisão. Mas, em 2020, a obra que ele escreveu a partir de 1989 e que ajudou a mudar a percepção do que eram histórias em quadrinhos restava como uma das únicas grandes propriedades da DC a não ter versões para as telas. Fora isso, Game of Thrones e outras tinham provado que era possível fazer séries com efeitos especiais. E é assim que, finalmente, Sandman chega, na sexta-feira (5), à Netflix.

Neil Gaiman participou de todo o processo, colaborando de perto com o showrunner Allan Heinberg. A primeira temporada é baseada nos dois primeiros volumes, Prelúdios & Noturnos e Casa de Bonecas. No centro da história está Sandman (Tom Sturridge), ou Sonho, que governa o mundo visitado ao dormir e é membro da família de Perpétuos, que inclui Morte (Kirby Howell-Baptiste), Desejo (Mason Alexander Park) e Desespero (Donna Preston), entre outros. Sonho é raptado e fica preso por mais de cem anos. Quando finalmente consegue escapar, retorna para seu reino, o Sonhar, que passou por muitas transformações. Começa então sua jornada para restaurá-lo.

Sandman toca em temas como morte, mudança, poder, esperança, criação de narrativas, beleza e dor de ser humano. “Eu sinto que é uma história sobre a humanidade”, disse ao Estadão a atriz Vanesu Samunyai, que interpreta Rose Walker, uma jovem em busca do irmão desaparecido e peça fundamental na sobrevivência do mundo real e do Sonhar. “É um grande espelho que nos mostra quem somos, mas de uma maneira bem grandiosa e divertida.”

Gaiman disse que não foi necessário fazer muitas modificações no material original. “Fiquei surpreso ao voltar aos quadrinhos que eu comecei a escrever em 1987 e perceber como poucas coisas precisavam ser alteradas para torná-los atuais”, disse Neil Gaiman. “De várias maneiras estranhas, Sandman estava à frente de seu tempo, o que significava que tivemos de fazer menos cirurgias do que imaginávamos para torná-lo relevante agora.”

Elenco

Desde o anúncio do elenco, houve muitos comentários sobre pessoas não brancas e mulheres fazendo personagens que eram brancos e homens nos quadrinhos. Por exemplo, Lúcifer, inspirado em David Bowie, é vivido por Gwendoline Christie. John Constantine agora é Johanna e vivida por Jenna Coleman. O bibliotecário Lucien é Lucienne (Vivienne Acheampong) e Morte é uma mulher negra. “Neil sempre esteve muito conectado com a realidade de nosso mundo”, disse Gwendoline Christie. “Então temos um elenco fantástico e diverso, tipos diferentes de vozes. E isso é empolgante para mim. É o que eu quero assistir.”

Gaiman disse que a ideia foi ampliar possibilidades. “Olhávamos os quadrinhos e perguntávamos: aqui temos um homem branco. Ele precisa ser homem? Precisa ser branco? Às vezes a resposta era sim. E às vezes, não”, contou. Lucien, por exemplo, é uma entidade milenar que lá atrás foi o primeiro corvo de Sonho. Não havia razão para ser branco, nem homem. “Sob nosso ponto de vista, isso significava que podíamos ver mais atores para o papel, de diferentes gêneros e tons de pele”, disse Gaiman. O mesmo aconteceu com Morte. “Não foi uma escolha de levantarmos uma bandeira e marcharmos pela diversidade.”

O autor sabe que tem gente chiando e vira e mexe rebate algum fã no Twitter. “Não fico chateado. O que digo é: Não se preocupe, nós sabemos o que estamos fazendo. Se você assistir, vai perceber isso.”

Tom Sturridge também compreende os fãs, por ser um deles. “Nossa versão é feita por Neil Gaiman. Não é algo que ele passou para alguém. É a versão dele”, disse o ator. “A responsabilidade de interpretar Sonho foi um peso, mas de uma certa forma conecta-se à responsabilidade de Morpheus com os sonhos de todos. Minha responsabilidade era para com os sonhos dos fãs de Sandman. Não é comparável no tamanho, mas é uma chave para entender o personagem.” (Estadão Conteúdo)