Bem-Estar

24 de abril de 2023

Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais: empresa de Boituva tem projeto que oferece aulas gratuitas aos colaboradores

A Língua Brasileira de Sinais é uma ferramenta de inclusão para a comunidade surda pois permite a comunicação por meio de expressões visuais e motoras. O dia 24 de abril marca a data em que a Libras foi oficialmente reconhecida e regulamentada por lei no país, em 2002.

Onze anos depois, ser tratado com igualdade na empresa onde trabalha, algo que pode parecer simples e banal para a maioria das pessoas, ainda pode ser uma barreira a ser derrubada para quem tem algum tipo de deficiência. Mas, para dar o primeiro passo, uma multinacional alemã que atua no ramo de segurança industrial implantou um projeto que oferece aulas gratuitas de Libras aos colaboradores da empresa, em Boituva, no interior de São Paulo.

Criado há cerca de um ano, o Programa de Libras da Schmersal tem como objetivo melhorar e facilitar a comunicação entre todos os colaboradores. Na última edição do projeto, um grupo de 22 pessoas está aprendendo a nova língua, mas a empresa já prevê novas turmas para início em 2023. Além disso, a empresa está em busca de mais profissionais com vagas afirmativas.

As aulas são ministradas pelo professor Clayton Carneiro, da escola Um Tradutor, de Boituva (SP), toda quinta-feira, no período da manhã, na própria empresa.

A operadora de logística Caroline de Lima Morosett trabalha na multinacional há oito anos e diz que se sente muito confortável na empresa desde 2015. Ela tem perda profunda da audição e utiliza a Língua Brasileira de Sinais como sua principal forma de comunicação, se identificando como surda. “Não só porque agora tem uma rede para a gente deitar e recarregar as energias depois do almoço, mas porque a empresa é realmente uma família em que eu posso ser eu mesma e ser respeitada por todos à minha volta”, comenta.

Para ela, mais do que inclusão, o projeto trouxe a possibilidade de fazer parte de reuniões e comunicados. “Agora podemos entender as informações passadas, porque a empresa sempre se preocupa em chamar o Clayton para interpretar para nós. Assim, não ficamos por último, de lado, para depois. Recebemos as informações em tempo real como todos.”

Contratado em 2017, o montador Lucas Guilherme Dias da Silva, que também é surdo, conta que, no início, a comunicação com os outros colaboradores só acontecia através de bilhetes e, como o português não é a sua primeira língua, nem sempre ele entendia o que as pessoas escreviam.

“Estou passando por um novo desafio dentro da empresa em um novo setor, mas percebi que, não importa onde trabalhe na empresa, encontro pessoas receptivas e dispostas a aprender o meu idioma para se comunicarem melhor comigo”, relata.

Tiago José Nicoletti de Almeida também é montador e faz parte do quadro da multinacional desde 2021. Para ele, que tem perda profunda da audição, é muito importante trabalhar em um ambiente onde até os líderes e encarregados conseguem se comunicar com ele em Libras.

“Amo o time do setor, pois todos me vêem como um membro capaz de trabalhar de igual para igual e consigo mostrar todo o meu potencial. Também me sinto muito feliz por ter outros surdos como eu na empresa”, comenta.

Atendimento psicológico

A Schmersal incentiva e investe continuamente em iniciativas que promovam a inclusão, respeitando e acolhendo todos os grupos minorizados. Prova disso é que, além das aulas de Libras, a empresa conta com um serviço de atendimento psicológico e os deficientes auditivos também podem participar, pois há intérprete disponível.

De acordo com a Chief People Officer (CPO) da companhia, Hellen Ferreira, esse projeto é inovador para as empresas brasileiras, pois existem pouquíssimos psicólogos que se comunicam pela linguagem de sinais no país.

“O nosso principal desejo é que estes colaboradores, assim como os demais que um dia ainda trabalharão conosco, sintam-se parte integrada da empresa e tenham a oportunidade de se comunicar com todos os colegas. É uma experiência incrível quando temos a oportunidade de cultivar esses relacionamentos. Eles se sentem felizes por receberem a nossa atenção e nós nos sentimos ainda mais felizes por conseguirmos conversar com eles”, aponta.