Um dia desses estava sentada esperando o ônibus. O ponto estava cheio de gente e me peguei pensando em como seriam as histórias de todas aquelas vidas.
Uma história em especial me fez pensar sobre o amor ideal.
Ele era mais baixo que ela, tinha um semblante jovial, usava camiseta de banda e tinha alargador nas duas orelhas.
Ela, 1,70 de altura eu imagino, sem salto alto. Usava roupa social. Parecia que tinha acabado de sair de uma reunião de negócios e era dona da coisa toda.
Um casal bem improvável, eu diria.
Mas por quê?
Viajei na possibilidade de existir um mundo onde o ideal fosse aquilo que faz o coração de cada um bater mais rápido e feliz.
Aliás, eles pareciam discutir seriamente sobre uma adoção.
Ela queria um cachorro, por considerar mais parceiro. Ele queria um gato, porque dá menos trabalho, dizia.
Não era uma discussão qualquer, era sobre o futuro.
Eles se completavam, ou melhor, se alinhavam para fazer parte da vida um do outro, e do futuro, bem como dos planos.
Ah, agora sim. Começou a chover!
Não trouxe guarda-chuva. Nunca lembro.
Ele rapidamente retirou o que parecia um toldo de dentro da bolsa. Se preocupou em cobri-la primeiro. Enxugou os óculos dela que haviam molhado e passou a mão sobre seu rosto, a fim de não deixar que a maquiagem de modelo que ela usava fosse atingida pela água que caía do céu.
Meu ônibus finalmente chegou e fui embora desejando que o amor seja sempre assim, na vida deles, na minha, na de todos.
Que ele seja piegas e faça planos de uma viagem qualquer, com a desculpa de apenas desfrutar da companhia um do outro.
Que ele faça almas bonitas se esbarrar em um bar, numa terça à noite enquanto passa jogo de futebol da segunda divisão na telinha.
Que ele seja abraço quente em dias frios, colo nos dias difíceis, riso solto em tardes de verão.
Que ele apenas seja, sem limites, sem regras.