Elos, Fatos & Afagos

19 de fevereiro de 2024

Beleza é vista de olhos fechados.

Sempre achei que beleza é vista de olhos fechados, gosta de pactos com o breu e de acender as três Marias no meio do peito.

É moça que brinca de ser purpurina em pupilas dilatadas. Que tem um cadinho de doçura e finzinho de ardência, tipo bala de menta, só pra casar o açúcar com a cinesia, por amor ao movimento.

Para mim, beleza vive em mãos-estrelas, dessas bem abertas, que conjugam com lealdade o verbo soltar, mas que no mais pequenino sinal de necessidade, sabem brincar de laço com os dedos.

Beleza eu vejo na cara de alguns rostos conhecidos quando as minhas pálpebras fazem cinema. Elas sempre têm algo em comum que acionam um levantar meia lua dos meus lábios. É que gente linda faz pacto de riso.

Beleza eu vejo também na cara de quem eu não conheço, mas que fez pousar borboleta no meu ouvido. Gente que faz gentileza só por gosto. Que ri pra desconhecido, dá mão para a vovó de alguém atravessar a rua, bate na porta do banheiro do bar porque ouviu alguém engolindo o choro que se fantasiou de soluço e, fala com aquele tipo de simplicidade que só a ternura tem: “precisa de alguma coisa?”

Beleza é coisa de boca surpresa. Que solta eu te amo no susto, tira a cerimônia do elogio, rouba beijos, faz contrato de afeto, que sabe usar a língua e faz da palavra escrava do amor e não o contrário. 

Beleza existe em olhos atlânticos, desses que sabem salgar o rosto sem a menor vergonha, por pura devoção a sensibilidade. Têm as pontas dos dedos de artista, que toca o outro com a mesma graça e delicadeza que beija a partitura.

Beleza dança em mentes inteligentes, mas não em qualquer tipo de inteligência.  Só o tipo caçadora de beleza. Que cria, projeta, aumenta. Aquela que seduz e reproduz o belo.

Beleza é coisa de gente sexy. Sim, reavalie essa cabeça que quase fez um giro de 360 graus quando leu isso. Pense bem. Não existe nada mais sexualmente atraente do que gente que te a(s)cende. Afinal, o que estrela o peito também te molha por dentro.

Beleza… me perdoe o padrão, o patriarcado, a indústria e a objetificação dos corpos. Me perdoe o supérfluo, os procedimentos estéticos e o futilmente harmônico. Mas beleza, beleza mesmo…

É vista de olhos fechados e […]

tem som de batimento.

Fernanda Padilha

Advogada, professora, especialista em Direito de Família e Sucessões e Doutoranda em Direito Civil pela Universidade de Buenos Aires, Argentina.

Escritora do Projeto Cultural Útero (Projeto aprovado pela Administração Pública Municipal e que tem como objetivo abordar pautas feministas de forma artística).

Amante da arte e defensora dos emocionados. Acredita no poder desmistificador das palavras e na força revolucionária do afeto.

  fernanda.padilha.ppndadvogados@gmail.com