Através do estudo Global Burden of Disease (GBD), as dores de cabeça são reveladas como uma das principais preocupações de saúde pública em todos os países e regiões do mundo. Em 2019, a enxaqueca sozinha foi a segunda causa de incapacidade e a primeira entre mulheres com menos de 50 anos de idade. As estimativas do GBD agora são atualizadas anualmente para monitorar as mudanças na carga de doenças em todo o mundo e, assim, prever as necessidades futuras dos serviços de saúde.
Há cada vez mais tratamentos baseados em evidências para a enxaqueca. Entretanto, o tratamento não é uma proposta única e, mesmo com a disponibilidade de medicamentos mais novos e direcionados, até 60% das pessoas não conseguem encontrar alívio adequado ou consistente, de acordo com um relatório publicado pela Neurology Today em 2020.
Tratamento com cannabis medicinal
Não é de se admirar que o interesse em terapias complementares à base de ervas e plantas, incluindo a cannabis medicinal, esteja crescendo. Pesquisadores da Universidade do Arizona dizem ter encontrado evidências que apoiam o uso de cannabis medicinal para o tratamento da enxaqueca. Ela ajudaria a diminuir a frequência de crises por mês, também reduzindo náuseas e vômitos associados durante as crises de enxaqueca.
Em uma pesquisa com adultos americanos e canadenses publicada na Psychopharmacology em maio de 2022, até 35% relataram usar cannabis para tratar cefaleias e enxaquecas.
Em outra pesquisa, publicada no Canadian Journal of Neurological Science em setembro de 2021, 34% dos 200 pacientes canadenses atendidos em uma clínica de dor de cabeça relataram o uso de cannabis tanto para prevenção, quanto para tratamento agudo e, muitas vezes, ao mesmo tempo. Sessenta por cento relataram que a cannabis reduziu a gravidade de suas dores de cabeça, enquanto cerca de 30 por cento disseram que ela evitou completamente suas dores de cabeça.
Diversos benefícios
Apesar dessas barreiras, estudos observacionais – especialmente aqueles publicados nos últimos anos – mostraram consistentemente os benefícios da cannabis medicinal para algumas pessoas com enxaqueca, incluindo a redução da gravidade da enxaqueca ou frequência mensal, e mostraram que drogas farmacêuticas ineficazes podem ser substituídas com segurança pela cannabis.
Por exemplo, as descobertas de um estudo no Journal of Pain de 2019 mostraram que a cannabis inalada reduziu a gravidade da enxaqueca em quase 50%, independentemente do teor e formulação, dose de tetrahidrocanabinol (THC) ou canabidiol (CBD) ou quão graves eram os ataques de enxaqueca antes dos participantes experimentarem a cannabis. Embora muitos participantes tenham desenvolvido tolerância, que significa a necessidade de doses mais altas ao longo do tempo, não pareceu haver um aumento nas dores de cabeça por efeito rebote ou aumento do uso de medicamentos.
A ligação entre cannabis medicinal e enxaqueca não é nova. A cannabis tem uma longa história de uso no tratamento de fortes dores de cabeça, com uma das primeiras menções a ela datando do segundo milênio a.C. Ao longo dos séculos que se seguiram, a cannabis medicinal entrou e saiu de moda antes de recuperar seu lugar nas modernas caixas de ferramentas médicas ocidentais na década de 1840.
De 1848 a 1948, a cannabis foi uma das drogas mais usadas no tratamento da enxaqueca. Nos Estados Unidos, William Osler (o pai da medicina moderna e membro fundador da Johns Hopkins Medical School) usou cannabis para tratamento de enxaquecas. Assim como William Gowers, o pai fundador da neurologia na Inglaterra.