Alternativa saúde

10 de fevereiro de 2023

Cannabis medicinal se mostra promissora como tratamento para enxaqueca

Através do estudo Global Burden of Disease (GBD), as dores de cabeça são reveladas como uma das principais preocupações de saúde pública em todos os países e regiões do mundo. Em 2019, a enxaqueca sozinha foi a segunda causa de incapacidade e a primeira entre mulheres com menos de 50 anos de idade. As estimativas do GBD agora são atualizadas anualmente para monitorar as mudanças na carga de doenças em todo o mundo e, assim, prever as necessidades futuras dos serviços de saúde.

Há cada vez mais tratamentos baseados em evidências para a enxaqueca. Entretanto, o tratamento não é uma proposta única e, mesmo com a disponibilidade de medicamentos mais novos e direcionados, até 60% das pessoas não conseguem encontrar alívio adequado ou consistente, de acordo com um relatório publicado pela Neurology Today em 2020.

Tratamento com cannabis medicinal

Não é de se admirar que o interesse em terapias complementares à base de ervas e plantas, incluindo a cannabis medicinal, esteja crescendo. Pesquisadores da Universidade do Arizona dizem ter encontrado evidências que apoiam o uso de cannabis medicinal para o tratamento da enxaqueca. Ela ajudaria a diminuir a frequência de crises por mês, também reduzindo náuseas e vômitos associados durante as crises de enxaqueca.

Em uma pesquisa com adultos americanos e canadenses publicada na Psychopharmacology em maio de 2022, até 35% relataram usar cannabis para tratar cefaleias e enxaquecas.

Em outra pesquisa, publicada no Canadian Journal of Neurological Science em setembro de 2021, 34% dos 200 pacientes canadenses atendidos em uma clínica de dor de cabeça relataram o uso de cannabis tanto para prevenção, quanto para tratamento agudo e, muitas vezes, ao mesmo tempo. Sessenta por cento relataram que a cannabis reduziu a gravidade de suas dores de cabeça, enquanto cerca de 30 por cento disseram que ela evitou completamente suas dores de cabeça.

Diversos benefícios

Apesar dessas barreiras, estudos observacionais – especialmente aqueles publicados nos últimos anos – mostraram consistentemente os benefícios da cannabis medicinal para algumas pessoas com enxaqueca, incluindo a redução da gravidade da enxaqueca ou frequência mensal, e mostraram que drogas farmacêuticas ineficazes podem ser substituídas com segurança pela cannabis.

Por exemplo, as descobertas de um estudo no Journal of Pain de 2019 mostraram que a cannabis inalada reduziu a gravidade da enxaqueca em quase 50%, independentemente do teor e formulação, dose de tetrahidrocanabinol (THC) ou canabidiol (CBD) ou quão graves eram os ataques de enxaqueca antes dos participantes experimentarem a cannabis. Embora muitos participantes tenham desenvolvido tolerância, que significa a necessidade de doses mais altas ao longo do tempo, não pareceu haver um aumento nas dores de cabeça por efeito rebote ou aumento do uso de medicamentos.

A ligação entre cannabis medicinal e enxaqueca não é nova. A cannabis tem uma longa história de uso no tratamento de fortes dores de cabeça, com uma das primeiras menções a ela datando do segundo milênio a.C. Ao longo dos séculos que se seguiram, a cannabis medicinal entrou e saiu de moda antes de recuperar seu lugar nas modernas caixas de ferramentas médicas ocidentais na década de 1840.

De 1848 a 1948, a cannabis foi uma das drogas mais usadas no tratamento da enxaqueca. Nos Estados Unidos, William Osler (o pai da medicina moderna e membro fundador da Johns Hopkins Medical School) usou cannabis para tratamento de enxaquecas. Assim como William Gowers, o pai fundador da neurologia na Inglaterra.

André Freitas Cavallini

Dr. André Cavallini, médico da Clínica Gravital.
@clinicagravital

Formado pela Universidade Cidade de São Paulo, com residência médica pelo Núcleo de Otorrinolaringologia, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, e Medicina do Sono de São Paulo.

Certificado Internacional em terapias à base de Cannabis, pelo GreenFlower Academy.

Membro da Associação Brasileira das Indústrias da Cannabis (ABICANN).