Alternativa saúde

20 de janeiro de 2023

Cannabis na Doença Inflamatória Intestinal

De acordo com a Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), a doença inflamatória intestinal (DII) é uma condição crônica que atinge mais de 5 milhões de pessoas em todo o mundo e, no Brasil, nos últimos anos tem sido observado aumento no número de novos casos. No nosso País, a prevalência das doenças inflamatórias intestinais varia de 12 até próximo a 55 em cada 100 mil habitantes, dependendo da região e do estudo epidemiológico. Observa-se uma maior concentração principalmente no Sudeste e no Sul, relacionando-se com o índice de desenvolvimento humano e a urbanização. A DII inclui a doença de Crohn (DC) e a colite ulcerativa (CU).

A DII não tem cura e os medicamentos nem sempre são eficazes para controlar os sintomas. Nos últimos anos, os cientistas têm explorado a eficácia da cannabis no controle dos sintomas da DII. Hoje, os usos médicos da cannabis estão aumentando para várias condições, como convulsões, dor crônica, náuseas causadas pela quimioterapia em tratamentos de câncer e condições inflamatórias. Isso está ajudando a cannabis a obter uma aceitação mais ampla.

Neste artigo, veremos mais de perto a pesquisa por trás do uso de cannabis para DII.

Cannabis e o sistema endocanabinoide

Todo mundo tem um sistema endocanabinoide em seu corpo. Endocanabinoides são neurotransmissores que o corpo produz; são responsáveis por uma variedade de funções corporais, incluindo a modulação da inflamação, função do sistema imunológico e neurotransmissores. Os endocanabinoides de fabricação própria mais conhecidos são a anandamida (AEA) e o 2-araquidonoilglicerol (2-AG).

Os canabinoides encontrados na planta de cannabis, incluindo ?9-tetraidrocanabinol (THC) e canabidiol (CBD), podem ativar o sistema endocanabinoide no corpo e podem ajudar a resolver dores crônicas, enxaquecas, dores abdominais, inchaço e outros problemas. A cannabis ativa os receptores canabinoides, incluindo os receptores CB1 encontrados no sistema nervoso central e os receptores CB2 encontrados em órgãos, músculos e outros tecidos corporais. Os canabinoides podem influenciar diretamente as quantidades dos endocanabinoides AEA e 2-AG encontrados no corpo, juntamente com a capacidade do corpo de manter a homeostase.

Os receptores CB1 são responsáveis pelo tônus muscular do intestino grosso e delgado e pela desaceleração do peristaltismo ou digestão nos intestinos1. A ativação dos receptores CB2 também desempenha um papel na DII ao atingir as células imunes nos intestinos, o que reduz a dor intestinal visceral e tem efeitos anti-inflamatórios. Os canabinoides podem interagir com famílias de outros receptores que também podem influenciar as funções normais do trato gastrointestinal, como esvaziamento do estômago, motilidade, imunidade e inflamação, equilíbrio do microbioma e comunicação intestino-cérebro.2

DII e Deficiência Clínica Endocanabinoide (DCE)

Pesquisas recentes sobre o sistema endocanabinoide sugerem que muitos pacientes com intestino irritável podem ter deficiência clínica endocanabinoide. Isso foi demonstrado por meio de estudos que examinaram os níveis de AEA e 2-AG encontrados no fluido espinhal. Os pesquisadores teorizam que essas deficiências podem vir de razões genéticas ou congênitas ou podem ser adquiridas de lesões ou doenças.3

A DII é caracterizada por dor abdominal intensa, inchaço, cólicas e uma alteração significativa nos movimentos intestinais. Os cientistas descobriram que a Deficiência Clínica Endocanabinoide é fortemente evidente em pacientes com DII, enxaqueca e fibromialgia. Os pesquisadores acreditam que, quando se trata de intestino irritável, “a saúde intestinal ideal sem dor e com a manutenção do peso corporal adequado parece exigir uma interação complexa entre dieta, flora entérica e equilíbrio endocanabinoide”.3

Pesquisas em camundongos obesos mostraram que há uma interação do eixo microbioma-intestino-cérebro. Isso significa que o microbioma do intestino delgado, intestino grosso e a saúde do cérebro são fatores importantes no tratamento dessa condição. Os camundongos obesos que receberam doses de THC tiveram uma microflora alterada favoravelmente no intestino, o que os impediu de ganhar mais peso com uma dieta rica em gordura em comparação com os camundongos que não a receberam.4

Considerações importantes antes de usar cannabis para DII

É importante conversar com um médico especializado sobre o uso de cannabis, pois podem ocorrer interações medicamentosas. Os pacientes se beneficiam ao tomar THC à noite ou conforme necessário para dores e inflamações intestinais. Alguns pacientes se beneficiam ao tomar CBD diariamente sem qualquer THC. Além disso, THCA e CBDA também podem ajudar os pacientes a ver melhorias com doses baixas.5 Os terpenos são as substâncias químicas encontradas na cannabis responsáveis pelos cheiros e sabores. Os seguintes terpenos também podem ajudar a combater alguns sintomas da DII5:

terpinoleno
cariofileno, também conhecido como beta-cariofileno
limoneno
pinene

Pode levar de oito a 12 semanas para experimentar melhorias significativas nos sintomas usando THC e CBD para DII, mas muitas pessoas relatam melhorias nos sintomas nas primeiras 2 a 3 semanas. Dependendo de quais alimentos desencadeiam seus sintomas, é indicado evitar aqueles que desencadeiam seus sintomas, como leite, cafeína, glúten e processado, por exemplo, além de ler as embalagens cuidadosamente para evitar ingredientes desencadeantes.5

A patologia da DII não é totalmente compreendida. De acordo com um estudo que discute o sistema endocanabinoide e a DII: “Atualmente, aos pacientes com DII são prescritos opioides, anticolinérgicos e antidepressivos, porém com resultados bastante abaixo do ideal.”1 Existem também tratamentos que alteram os níveis de serotonina do corpo, mas esses medicamentos acarretam o risco de efeitos colaterais e outros eventos adversos, como colite isquêmica ou eventos.1 É importante observar que a síndrome do intestino irritável não é o mesmo que a doença inflamatória intestinal (DII).

André Freitas Cavallini

Dr. André Cavallini, médico da Clínica Gravital.
@clinicagravital

Formado pela Universidade Cidade de São Paulo, com residência médica pelo Núcleo de Otorrinolaringologia, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, e Medicina do Sono de São Paulo.

Certificado Internacional em terapias à base de Cannabis, pelo GreenFlower Academy.

Membro da Associação Brasileira das Indústrias da Cannabis (ABICANN).