Peguei minha taça de champanhe barato e fui até o parapeito da sacada do hotel onde passaria aqueles dias.
Queria aproveitar o tempo observando outras vidas, quem sabe assim fugiria um pouco da minha.
A noite exalava a energia de mais um ciclo que se encerrava, mas não para mim.
Não conseguia encarar os próximos dias como o “reset” de virada de ano. Minha mente mantinha o foco em tantos planos que fiz ao longo do ano que apenas desejava mudar essa página para viver o que realmente tinha sonhado.
Enquanto lá embaixo os casais trocavam promessas para uma estrada juntos, eu os olhava pensando que continuaria sozinha por mais uma fase.
Quanto tempo ela duraria desta vez?
Um pouco mais à direita avistei um grupo de amigos rindo tão livremente, intercalando goles de vodca e piadas ruins.
Pareciam genuinamente felizes.
Não era o efeito do álcool. Era a certeza de que estarem juntos valia mais do que qualquer riqueza no mundo.
Afinal, não é assim que aqueles que amamos são vistos?
Até mesmo a criança de vestido branco e Margarida na cabeça estava totalmente absorta numa realidade onde tudo o que queria era ser feliz.
Eu também tinha esse desejo para aquela noite.
O champanhe acabou.
A taça estava vazia.
Os fogos começaram a aparecer ao fundo, no horizonte.
A vida se renovou com a magia que torna um segundo e o outro tão distinto.
Os amigos se abraçaram.
O casal se beijou.
A criança se encantou.
E eu, finalmente, entendi que não é sobre estar cercada de pessoas.
É sobre se cercar de si mesma.
Me acolhi, me abracei, e prometi escrever essas novas páginas com mais consciência de que o amor também vale quando a dança é solo.