Há alguns anos, eu li um texto fazendo um comparativo de amores com sapatos.
Na minha mente até então adolescente, o tal comparativo colou feito chiclete no cabelo. Embora eu tenha, por muitas vezes, antagonizado a lição na prática.
Não, o texto não fazia do amor futilidade descartável. Não fazia um culto as variadas opções, mas de uma maneira muito simplória, me devolveu a cena da Cinderela com o seu sapatinho de cristal.
“Não forçar para caber”.
“De hecho”, o amor pode ser muito bem um sapato. Você pode tentar colocar uma palmilha, se forçar a usá-lo mesmo causando bolhas, mas se não acolhe os seus pés, se não laceia, é um adereço inútil.
Saindo da parábola do sapatinho, depois de tanta contração do verbo forçar, depois de tanto diminuir para caber, peguei o chiclete do cabelo e te escrevi. Agora.
Meu bem, não vamos romantizar a insistência. Tampouco fantasiar amores moldados ao nosso bel-prazer. Mas, vamos fazer um pacto de delicadeza. Promete?
Vamos ficar com o que desliza pelas mãos, tipo água corrente. Demorar no que, por escolha, agarra as pontas dos dedos. Dar um voto para quem sustenta os olhos e não foge quando descobre que o coração também pulsa dentro da cabeça. Vamos ficar com o beijo-lâmpada que apaga e acende tudo. Com braços abertos tipo estrela do mar que diz: “deita aqui”. Com quem golpeia o medo, dá palco para as fragilidades e sabe ficar nu.
É que no fim, meu bem, a verdade é só uma:
– o que requer uma lista de argumentos para fazer morada…
não cabe!