Hoje te peço desculpas.
Por tantas vezes que te abandonei, aos prantos, perdida.
Pelas vezes em que te enchi de coragem e te fiz quebrar a cara.
Pelos falsos amores que te fiz acreditar.
Pelos verdadeiros, que te fiz abandonar.
Pelos pecados que esfreguei na sua cara, sem perdão, sem piedade.
Pelos sapos que te fiz engolir.
Pelas vezes que foi enganada pelo seu agressor, e te fiz achar que era normal.
Por te deixar pensar que, depois disso, seu corpo era um lixo.
Que a culpa era sua.
Que você era fácil e sem escrúpulos.
Por te fazer acreditar que pequenas satisfações encobriram o vazio de não se amar.
Me perdoe por apertar seu corpo para que coubesse nos padrões dos outros.
Por alisar seu cabelo e disfarçar suas rugas com um quilo de maquiagem.
Por fazer você odiar cada pedaço seu.
Me desculpa por te fazer acreditar que é impossível receber amor.
Pobre menina, tão frágil, tão fraca, tão tola, se fez moça carregando em si a crença do ódio pela pele.
Pobre menina, tão abatida, tão dependente.
Reprimida, sozinha, adormece aos cacos do próprio desalento.
Partida, sem rumo, sem cor, com dor.
Te pego nos braços, não sei se consigo, dentro desse afago me fazer teu abrigo.
Me desculpa criança, menina, mulher.
Me desculpo.
Te desculpo.