A polícia reconheceu que houve falhas de segurança no comício
Um dia depois de o ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe ser morto a tiros em plena luz do dia, uma nação atordoada está questionando como o atirador conseguiu se aproximar de um dos políticos mais proeminentes do Japão e disparar dois tiros à queima-roupa sem a intervenção de seguranças.
A principal autoridade policial em Nara, onde Abe foi assassinado na sexta-feira (8), reconheceu neste sábado (9), que houve falhas de segurança no comício e prometeu identificá-las e resolvê-las. Na televisão e nas redes sociais, há vários vídeos do atirador passando livremente pela segurança antes de apontar uma arma grande e artesanal na direção de Abe. O primeiro tiro pareceu assustar o ex-líder. Segundos depois, um segundo tiro foi disparado e Abe caiu no chão. Nesse momento, homens que pareciam fazer parte de sua equipe de segurança derrubaram o atirador no chão.
As imagens gráficas levantaram questões sobre como o atirador conseguiu se aproximar por trás do local onde Abe estava falando e como, após o primeiro tiro, ele conseguiu disparar outra vez antes que os seguranças o imobilizassem.
Campanha
Investigações estão em andamento sobre os protocolos de segurança, a arma de fogo caseira, assim como os motivos do atirador, enquanto o Japão se recupera do episódio envolvendo seu primeiro-ministro mais longevo. Abe estava fazendo campanha na rua para um colega de seu Partido Liberal Democrata (PLD) dois dias antes das eleições legislativas.
“É inegável que houve problemas com a segurança do ex-primeiro-ministro Abe, e identificaremos imediatamente os problemas e tomaremos as medidas apropriadas para resolvê-los”, disse Tomoaki Onizuka, chefe da polícia da Província de Nara.
Onizuka disse que a polícia foi informada da presença de Abe apenas um dia antes – prazo mais curto do que o normal para um evento de campanha. Ele aprovou o plano de segurança no dia do evento. Não está claro se seguranças armados estavam presentes.
Ressentimento
O atirador, um desempregado de 41 anos de Nara, chamado Tetsuya Yamagami, disse aos investigadores que acreditava que Abe estava ligado a um grupo que ele odiava. A polícia rejeitou identificar o grupo, citando a investigação em andamento.
Yamagami disse à polícia que pretendia matar Abe com um explosivo, mas em vez disso usou o que considerava a arma mais letal para o ataque, informou a emissora pública NHK. Foram encontradas outras armas caseiras na casa do atirador. O Japão tem rigorosas leis para a aquisição de uma arma de fogo.
Yamagami também declarou que sua mãe faliu depois de gastar seu dinheiro para apoiar um grupo religioso, que teria ligação com o partido de Abe, segundo o jornal japonês Mainichi Shimbun, que citou fontes policiais. Ele disse que sua família se desfez por causa da obsessão de sua mãe com o grupo, e ele atacou Abe “por ressentimento”, relatou o jornal.
Ontem, em uma longa fila, japoneses em luto prestaram homenagem no local do ataque em Nara, perto de Osaka. O corpo de Abe foi levado para Tóquio em um carro funerário e o primeiro-ministro Fumio Kishida visitou a casa de seu antecessor para oferecer condolências. A família Abe realizará um velório amanhã e um funeral na terça-feira para parentes e conhecidos próximos. Os planos para um possível funeral de estado não foram divulgados.
Votação
A oposição pediu aos eleitores que separem sua dor de sua escolha eleitoral. Ela está preocupada que a morte de Abe cause um potencial voto de simpatia pelo PLD ou aumente a participação dos apoiadores do partido conservador. Abe, que tinha 67 anos, permaneceu como um poderoso mediador em seu partido mesmo depois de deixar o cargo. Espera-se que o PLD, que dominou a política japonesa desde sua fundação, em 1955, saia vitorioso. Se o partido mantiver ou expandir seu controle na Câmara Alta, abrirá caminho para Kishida, eleito em outubro, aprovar algumas de suas propostas políticas mais ambiciosas.
Kishida apresentou um plano vago de revisão econômica e está considerando aumentos nos gastos com defesa, uma questão controvertida em um país com uma Constituição pacifista, que Abe tentou modificar durante seu período como chefe de governo. (Tem Mais)