Sua intenção era elaborar uma estética culta (de música, teatro, dança, literatura) partindo da herança popular
Foi em 1970, mais precisamente no dia 18 de outubro, que o escritor Ariano Suassuna (1927-2014), disposto a criar uma arte erudita, mas com raízes profundas na cultura popular, lançou o “Movimento Armorial”. Sua intenção era elaborar uma estética culta (de música, teatro, dança, literatura) partindo da herança popular — o resultado foram obras que reconheceram e renovaram a tradição, trabalho dos quais os mais representativos poderão ser vistos a partir de hoje (20), quando abre a mostra “Movimento Armorial 50 Anos”, no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo.
A dimensão de sua importância está no fato de todo o prédio do CCBB (quatro andares e subsolo) ser ocupado por cerca de 140 obras (a maioria jamais tinha saído do Recife, onde vivia Suassuna) em diversos formatos – desde a “Onça Caetana”, anfitriã que recebe o público e é um elemento cenográfico inspirado nos desenhos de Suassuna, até pinturas, xilogravuras e esculturas. “A exposição é fiel à proposta de Ariano, apresentando às novas gerações o trabalho pioneiro e engajado do autor, mostrando como ele propunha uma volta às raízes brasileiras, com profundo respeito à diversidade e às tradições, mas apresentando tudo de forma mágica, lúdica, e plena de humor – um humor que faz pensar”, afirma a curadora Denise Mattar.
O escritor dizia que a criação do movimento era uma resposta à sua inquietação sobre os caminhos seguidos pela arte nacional. “Comecei a ficar preocupado com a descaracterização da cultura brasileira”, comentou ele, em uma entrevista para a TV Globo, em 2013.
Raízes populares
“Pensei em reunir um grupo de artistas que atuassem em todas as áreas e que tivessem preocupações semelhantes às minhas”, diz ele, “para que juntos procurássemos uma arte brasileira erudita fundamentada nas raízes populares da nossa cultura. E, através dela, a gente lutar contra esse tal processo de descaracterização da cultura brasileira.‘
Ao seu redor, reuniram-se escritores, músicos, artistas plásticos e gente de teatro – nomes como Francisco Brennand, Gilvan Samico, Maximiano Campos, Ângelo Monteiro, Marcus Accioly, Miguel dos Santos, Raimundo Carrero e Antônio José Madureira eram os integrantes do primeiro núcleo.
A multiplicidade de talentos gerou uma obra vasta e heterogênea, que vai do branco e preto das xilogravuras, passando pelo multicolorido dos ornamentos e fantasias de festas populares até chegar às coreografias de danças
A mostra foi criada por Regina Rosa de Godoy e estava prevista para 2020, quando marcaria o cinquentenário do Movimento Armorial, mas foi adiada devido à pandemia de Covid.
O CCBB fica na avenida Álvares Penteado, 112, Centro Histórico de São Paulo. Mais informações e ingressos pelo https://ccbb.com.br/. (Da Redação com Estadão Conteúdo)