Cultura

4 de julho de 2022

Terço a João de Camargo será 3ª feira, às 19h30

Esta edição do evento religioso – que acontecerá no jardim da igreja – será aberta ao público

O terço em homenagem aos 164 anos do religioso João de Camargo voltará ao formato tradicional, após dois anos afetado pela pandemia de Covid-19. A celebração será na terça-feira (5), na Capela Senhor do Bonfim, conhecida como Capela João de Camargo, no Jardim Paulistano, em Sorocaba, às 19h30. Entre 200 e 300 fiéis devem participar da tradicional cerimônia, realizada há mais de 50 anos, segundo estimativa da organização.

Esta edição do evento religioso — que acontecerá no jardim da igreja — será aberta ao público. Ao contrário de 2021, haverá o terço completo, neste ano. A celebração com a apresentação da história de João de Camargo. Em seguida, vêm as rezas e, nos intervalos das orações, cânticos. Ao final, serão distribuídos botões de rosa, um terço, bolo e chá de folha de magnólia.

Em 2021, devido à pandemia, o terço foi adaptado, com número de participantes limitado a 20. Os demais fiéis puderam acompanhá-la por meio de transmissão ao vivo na página da Capela no Facebook. Já em 2020, também em razão da crise sanitária, teve de ser cancelada.

Organizador do terço há quase 15 anos, Dilmar Donizete de Oliveira Nitheroy, de 65 anos, comemora a retomada. Para ele, a tecnologia ajudou a amenizar, ao menos um pouco, a saudade da cerimônia. Porém, considera o formato presencial insubstituível e especial. “A live não é a mesma coisa que ter a presença do público. O público traz mais emoção, mais energia. Sem a presença do público, a gente não têm essas sensações”, disse.

Segundo Nitheroy, a celebração é uma forma de exaltar a memória de João de Camargo, a própria figura dele e a importância de seu trabalho. Trata-se, igualmente, de uma maneira de agradecê-lo por suas ações. Ele cita que o religioso merece ser lembrado porque sempre se dedicou a fazer o bem ao próximo. “João de Camargo foi uma pessoa simples, que procurou só fazer o bem para os fiéis que iam até a Capela, por meio da fé, e tinha um coração imenso. Ele dividia tudo aquilo que recebia com as pessoas pobres que estavam passando alguma necessidade. Tudo de bom ele fez: curar e ajudar as pessoas”.

Para Nitheroy, mesmo depois da sua morte, João continua a cuidar dos seus devotos, mas de forma espiritual, por meio da fé deles. Ainda de acordo com ele, o legado do médium é reconhecido não só em Sorocaba, mas, sim, em diversas partes do Brasil.

João de Camargo

João de Camargo nasceu em Sarapuí, na Região Metropolitana de Sorocaba (RMS), em 5 de julho de 1858. Naquela época, a escravidão ainda era vigente no Brasil. Inclusive, Nhô João, como era conhecido, foi escravo e herdou o sobrenome Camargo de seu “dono.” Apesar de ter nascido na região, morou a maior parte da sua vida em Sorocaba. Trabalhou como cozinheiro, agricultor, oleiro e foi militar. Analfabeto, também fundou uma escola de alfabetização para pessoas em situações de vulnerabilidade social e um grupo musical.

Ele decidiu construir a capela Senhor do Bonfim após uma visão. Segundo a história, o menino Alfredinho, morto nas proximidades da Capela após cair de um cavalo, teria lhe pedido para construir a igreja onde ela está localizada. E assim ele fez. O contato com o garoto o curou do alcoolismo.

Nhô João praticava sincretismo com a junção do catolicismo, crenças populares e culto aos orixás. Tem várias curas atribuídas a ele. Por conta dos trabalhos espirituais, ganhou fama e atraiu uma legião de seguidores. Para as práticas, usava folhas de magnólia — hoje distribuídas no terço –, água e pelos. Mas, as suas atividades também lhe trouxeram consequências negativas, pois chegou a ser preso, sob alegação de curandeirismo.

João morreu no dia 28 de setembro de 1942, em Sorocaba. Está sepultado no cemitério da Saudade. O seu quarto na Capela onde viveu e atendeu as pessoas por anos está preservado até hoje. O local é aberto à visitação. A sua história do religioso é retratada em diversos livros e no filme Cafundó (2005). Mais recentemente, ainda teve a sua vida contada no documentário Benzedeiras do Brasil, produzido em 2021, por uma empresa de comunicação de Sorocaba. O vídeo, lançado na Alemanha, apresenta o religioso como referência no costume da benzeção na cidade e para benzedeiras de todo o País. (Vinicius Camargo) (Cruzeiro do Sul)