Site oficial de Rodrigo Manga distorce informações sobre os escândalos de corrupção para afastar o prefeito de polêmicas. Foto: Montagem/Portal Porque
Site de campanha do prefeito afirma encerramento de supostos casos de corrupção na Sedu, enquanto Manga e ex-secretário seguem com bens bloqueados pela Justiça.
O prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga (Republicanos), em sua corrida pela reeleição, encontrou uma nova utilidade para seu site de campanha: distorcer fatos e fabricar narrativas favoráveis. Entre as últimas façanhas, ele afirma que processos judiciais envolvendo sua administração foram encerrados — um argumento facilmente desmentido pela realidade dos tribunais. Além disso, o portal do prefeito classifica as denúncias de corrupção, que resultaram até no bloqueio de seus bens, como meros ataques “partidários”.
Kits de robótica
Um exemplo recente dessa distorção apareceu em matéria com o título: “Suposto caso de corrupção e propina na Secretaria da Educação de Sorocaba é encerrado pela Justiça”. O texto tenta convencer o leitor de que a polêmica envolvendo a compra dos kits de robótica por R$ 26,3 milhões foi resolvida graças ao afastamento do então secretário de Educação, Márcio Bortolli Carrara, por iniciativa da Prefeitura de Sorocaba. Na realidade, o afastamento foi uma determinação judicial.
Em fevereiro deste ano, Carrara conseguiu recorrer da decisão que o proibia de assumir cargos de confiança sem concurso público. A Justiça entendeu que seu afastamento tinha sido estendido sem base legal. Logo após essa vitória nos tribunais, em 1º de fevereiro, Carrara voltou ao serviço público, mas não para dar aulas como professor de educação básica I, sua função original. Em vez disso, foi alocado no Fundo Social de Solidariedade, presidido pela primeira-dama, Sirlange Maganhato, até 31 de dezembro de 2024.
No entanto, o escândalo dos kits de robótica está longe de ser “encerrado”. O prefeito Manga, Carrara, a empresa Carthago Editorial (responsável pela venda dos kits) e seu sócio-diretor Omar Freddi continuam com seus bens bloqueados desde maio de 2023, suspeitos de improbidade administrativa. A Justiça não se convenceu das boas intenções da Prefeitura ao pagar R$ 740 por kit de robótica — especialmente quando a empresa que detém a marca “Menino Maluquinho” vendia o mesmo kit, só que para outros compradores, por R$ 360. Além disso, no mercado, kits semelhantes custam entre R$ 14 e R$ 29 (leia aqui). Não há previsão para o caso ser julgado.
Família Hial
Outra narrativa distorcida no site do prefeito tenta desvincular Manga dos contratos suspeitos com empresas ligadas à família de Jorge Domingos Hial, ex-diretor da Urbes. Desde janeiro de 2021, empresas da família Hial fecharam nada menos que 17 contratos com a administração municipal, somando R$ 32 milhões. O conteúdo do site de campanha insiste em rotular as críticas como “comentários partidários”, mas a realidade é que a investigação foi desencadeada por uma reportagem da TV Tem e do G1 Sorocaba, divulgada em setembro de 2023.
Prédio da Sedu
Na tentativa de se esquivar de mais um escândalo, o site de Manga minimiza as denúncias de corrupção na compra do novo prédio da Sedu (Secretaria da Educação). A Prefeitura pagou quase R$ 30 milhões por um imóvel que valia R$ 20 milhões. A investigação, revelada com exclusividade pelo Portal Porque em julho de 2022, já foi julgada em primeira instância e confirmou o superfaturamento do prédio. O conteúdo publicado no site oficial de Manga, o prefeito insiste que nem ele e nem o município são partes envolvidas no processo, mas convenientemente omite a condenação à prisão de dois secretários do seu governo, Paulo Henrique Marcelo (Sedettur) e Fausto Bossolo (Governo e Administração), além do ex-servidor Areobaldo Negretti, engenheiro que assinou um laudo inflando o preço do imóvel (leia aqui).
Caso Aceni
O site de Manga também tenta se descolar das fraudes na contratação da Aceni (Associação das Crianças Excepcionais de Nova Iguaçu), organização que foi responsável pela gestão de duas unidades de saúde em Sorocaba. As investigações são tratadas como “arma” eleitoral contra Manga, entretanto, o TCE-SP (Tribunal de Contas do Estado de São Paulo) já rejeitou os recursos da Prefeitura e manteve o parecer de irregularidade do contrato de R$ 14 milhões celebrado com o Iase (Instituto de Atenção à Saúde e Educação), antigo nome da Aceni.
Nem os conselheiros do TCE perdoaram a troca de nomes promovida pela organização. O tribunal ainda ironizou a criação de uma “emergência fabricada” de Manga que justificou a contratação sem licitação. A Aceni embolsou R$ 14,3 milhões da Prefeitura em 2021, mas não conseguiu nem apresentar a prestação de contas adequada (leia aqui).
O Portal Porque questionou a assessoria de imprensa do prefeito Manga sobre as fake news publicadas em seu site oficial, mas não recebeu respostas até o fechamento desta reportagem.
Fonte: https://www.portalporque.com.br/sorocaba-regiao/manga-usa-site-de-campanha-para-espalhar-fake-news-e-abafar-escandalos-de-corrupcao/
Wilma Antunes (Portal Porque)
23/08/2024 – 19:43
