Bem-Estar

27 de abril de 2022

Hospitais de SP têm alta de crianças internadas por doenças respiratórias

Alta tem relação direta com a maior incidência do vírus sincicial respiratório (VSR), que não tem vacina

O número de crianças internadas com síndrome respiratória aguda grave não causada pela Covid-19 tem aumentado em hospitais públicos e particulares do estado de São Paulo nas últimas semanas.

A alta tem relação direta com a maior incidência do vírus sincicial respiratório (VSR), que não tem vacina. Segundo médicos, o fato de as famílias terem ficado isoladas nas suas casas em 2020 e 2021 reduziu a quantidade das crianças que tiveram contato com o VSR, o que faz com que os casos se acumulem agora. Esse aumento de doentes sempre ocorre com a proximidade do inverno, dizem os especialistas, mas a tendência ganhou força mais cedo neste ano.
O número de pacientes com o vírus sincicial respiratório aumentou no Sabará Hospital Infantil, unidade de referência na capital. Até 16 de abril, foram 94 casos positivos para o VSR entre crianças que chegaram ao pronto-socorro – nas últimas quatro semanas, a positividade média foi de 25% das amostras analisadas.
Felipe Lora, diretor técnico do Sabará, ressalta que o outono traz o crescimento das doenças respiratórias. “Em 2020 e 2021, atipicamente, isso não aconteceu porque, devido à pandemia, houve restrição de circulação, o que fez muitos não se contaminarem. Este ano, estamos voltando para o padrão sazonal”, explica.
Conforme o pediatra, neste início de ano há circulação maior de vários tipos de vírus. “Na semana de 10 a 16 de abril, foram identificados 18 vírus respiratórios em pacientes atendidos no pronto-socorro, sendo que o sincicial respiratório e o rhinovírus prevalecem desde o início de fevereiro”, continua Lora.
O VSR causa grande parte das síndromes respiratórias graves. Ele é um dos principais agentes de infecção aguda nas vias respiratórias, o que leva a pessoa infectada a buscar o serviço de saúde. O vírus atinge brônquios e pulmões, ocasionando doenças como bronquiolite e pneumonia. A SRAG pode ser causada também pelos vírus da Covid-19 e da influenza (gripe comum), mas, para estes, o sistema público de saúde tem vacinas. Para o sincicial, só bebês prematuros ou em risco têm acesso a um imunizante oferecido pelo Ministério da Saúde.
“Os bebês nascidos nesse período (2020 e 2021) terão contato com o sincicial pela primeira vez na vida já com mais de dois anos, o que não acontecia, pois eles se expunham ao vírus já nos primeiros meses. É um cenário novo e a gente procura estudar qual será o impacto disso”, diz o infectologista Marco Aurélio Sáfadi, professor da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo e também ligado ao Sabará.
A Secretaria da Saúde paulistana diz que, devido à sazonalidade dessas doenças e às alterações nas condições climáticas, é comum aumentarem atendimentos e internações, sobretudo em março, abril e maio. Na quinta-feira (21), a rede municipal tinha 85% de ocupação dos leitos de UTI pediátrica e 83% nos de enfermaria. Desde janeiro, foram registrados 13.726 casos de SRAG em crianças – 8.687 pela Covid e 5.039 causados por outros vírus, entre eles o sincicial. O número de casos está em queda nas três últimas semanas.
Oito estados apresentam tendência de alta, alerta Fiocruz
Um boletim da Fiocruz, divulgado no último dia 20, mostra que 41,5% dos casos de SRAG no país nas quatro semanas anteriores são de infecção pelo vírus sincicial, mesmo sendo uma doença observada só em crianças, o que torna esse índice muito expressivo.

Conforme o pesquisador Marcelo Gomes, coordenador do Infogripe, o sistema de informações da Fiocruz, a incidência de SRAG em crianças manteve ascensão significativa em diversos estados desde fevereiro, puxadas pelo vírus sincicial.
Oito estados apresentam sinal de alta na tendência de longo prazo: Acre, Amapá, Mato Grosso, Pará, Piauí, Paraná e Roraima. Alagoas e Paraíba têm indícios de crescimento apenas na tendência de curto prazo. “Em todas essas localidades, os dados por faixa etária sugerem tratar-se de cenário restrito à população infantil (grupo em que a incidência do VSR é maior)”, explica Gomes.

*Com informações do Tem Mais