Maternidade Real

27 de outubro de 2022

A mulher e a mãe

 Quando meu filho Bruno tinha apenas 3 meses eu li um Livro da Elisabeth Badinter chamado “O Conflito: a mulher e a mãe”. Embora antes da maternidade eu considerava a Badinter um tanto radical, quando li esse livro ele fez muito sentido pra mim. Certamente não há mulher no mundo que não entre em conflito em algum momento na divisão de tempo entre ser mulher e ser mãe.

A gente pode amar muito a maternidade, mas é impossível não se questionar sobre o quanto de tempo podemos dedicar aos outros campos da nossa vida.

Há dias em que esse questionamento se torna enlouquecedor porque parece que nunca mais poderemos ter o direito de pensar em nós mesmas.

Outro dia assisti um vídeo de desabafo de uma mulher dizendo: “Se você não tem tempo para seu filho, se você quer poder se dedicar à sua carreira, se você quer tempo para sair e se divertir, não tenha filhos! Simples assim”

Eu me perguntei: “O que ela entende sobre a abdicação de tempo se ela não é mãe?!”

Gestar é entregar o seu corpo e sua fisiologia para gerar uma vida… isso inclui mal estares, sono comprometido, altos e baixos na autoestima, inchaço, constipação, estética abalada (porque a parte linda todo mundo conhece então eu to pontuando aquilo que ninguém quer falar porque é considerado “um pecado reclamar de qualquer coisa quando você tem a dádiva de estar grávida”. Parir é mais entrega ainda! É se permitir enfrentar todos os seus medos, seus traumas e seus limites de uma vez só! É atravessar um portal sozinha porque ninguém pode dividir a dor das contrações com você (embora ter um companheiro e uma equipe maravilhosos ajude muito). Amamentar é resiliência! É ficar disponível para aquele serzinho que parece um piercing de mamilos, sentir dor até que tudo se encaixe, ter o sono interrompido várias e várias vezes, colocar o bem-estar do outro acima do seu todos os dias… É natural! Você segura a vontade de ir ao banheiro, a fome, o cansaço… tudo para que aquele pequeno ser que está nos seus braços possa ficar bem. E eles vão crescendo… e as demandas vão mudando… passada aquela fase que seu braço está quase caindo de dor com o peso do bebê no colo, mas ele sequer senta para que você possa coloca-lo no chão, tudo vai ficando um pouco mais fácil…

Mas sempre haverá demandas! E as preocupações então?! Eu diria que vão aumentando. Mas chega um dia que você vê que pode tirar uma horinha pra você. E depois duas horinhas e depois pode voltar a estudar e quem sabe até ir pra academia…

A gente se desdobra pra dar atenção pros filhos e conciliar trabalho, casa, marido, vida social…

No entanto sabemos de tudo que abdicamos (por amor) até ali e chega a hora de olhar um pouquiiiiinho pra nós mesmas. Então vem a sociedade (piora ainda: MULHERES) e julgam suas condutas como se você não tivesse o direito de olhar pra si! É lamentável.

Se você é uma dessas mulheres que acham que sua vizinha não dá atenção suficiente pros filhos, se ofereça pra ficar na vida dela por um mês. Assuma tudo o que essa mulher faz por um mês e se aí você achar que ela realmente é negligente, aí você tem licença poética pra gravas vídeos e fazer cartazes dizendo “não tenha filhos!”.

E citando Titãs, concluo esse texto dizendo: “A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”. Você mãe não deixou de ser mulher! Olhe pra si! Queira crescer! Queira se cuidar! Pratique a gestão de tempo para organizar todas as demandas (não é fácil, mas praticando a gente melhora isso a cada dia) e VIVA! Você pode sim ter filhos e fazer coisas por você, isso não é um crime. E nunca, jamais, se permita ser julgada por alguém que nunca passou por tudo o que você já viveu. A suas dores, as suas lutas, só você conhece!

Meu abraço, de mãe pra mãe, de mulher pra mulher.

Ana Garbulho

Mãe do Bru, da Mel e da Maya, Obstetriz, consultora internacional em aleitamento humano, laserterapeuta, empreendedora, mulher, namorada do Má, apaixonada por vôlei e mais recentemente por Beach Tennis.