Agaquê

3 de agosto de 2022

A odisseia de Hakim

Gostaria de poder compartilhar com vocês essa experiência que foi ler a trilogia “A odisseia de Hakim” de Fabien Toulmé.

Tem quadrinhos que leio rapidamente porque realmente nada me prende, a história se perde, as ilustrações ficam confusas, mas com as obras de Fabien a realidade é outra, são obras muito diferenciadas em todos os sentidos. Dessa vez a leitura foi bem devagar para poder ficar mais tempo na história, observar, rever e principalmente refletir e recuperar o fôlego.

Fabien é leitor dos quadrinhos franco-belgas clássicos (Tintin, Lucky Luke, Asterix) desde sua infância e como engenheiro civil viajou por diversos países. Em 2008 resolveu se dedicar aos quadrinhos. Seu primeiro projeto foi em 2014 com “Não era você que eu esperava ”, um relato sensível do nascimento de sua segunda filha, Julia, que tem síndrome de Down. Em 2017, foi a vez de “Duas vidas”, uma belíssima história sobre a coragem e o amor entre irmãos.

Nessa HQ o leitor pode acompanhar a produção do próprio quadrinho, pois foi desenhado os encontros do autor com o personagem principal. Isso ajuda muito na empatia com o drama, já que são abertos vários parênteses explicativos.

Em “A odisseia de Hakim”, Fabien nos apresenta, em três volumes, a história do jovem Hakim, um jovem sírio que vislumbrou a face mais sombria da humanidade e teve de enfrentar duras provações em sua luta pela sobrevivência e por uma vida digna. A história nos coloca tão perto de Hakim, que nossa torcida pelo sucesso da sua jornada cresce a cada página.

Hakim tentou a vida como jardineiro em sua pátria, tinha uma vida cheia de sonhos e planos, mas tudo se perdeu em 2011, quando a Síria tornou-se um lugar perigoso e as famílias precisam lutar por sua sobrevivência. Como forma de impedir as manifestações que pediam por liberdade, o governo respondeu de forma nada amistosa, prendendo, torturando e assassinando civis que se opunham. Hakin foi uma dessas milhares de vítimas, foi detido e torturado por dias, perdeu sua floricultura, seus apartamentos e após sua libertação estava em plena guerra civil.

Com medo de uma nova captura, Hakin decide ir para o Líbano provisoriamente. Fora de sua pátria, as dificuldades começam a aparecer, seja pela falta de emprego, seja pela falta de apoio da população local.

Ao longo dos 3 volumes podemos acompanhar de forma emocionante todo o trajeto do protagonista. Sua paixão, o nascimento do seu filho e a difícil missão de seguir para a França, local onde sua esposa consegue se refugiar ao longo da trama. Hakin atravessou inúmeras fronteiras como refugiados (Jordânia, Turquia, Macedônia, Grécia, Sérvia, Hungria, Áustria, Suíça e França) passando fome, frio , enfrentando adversidades e algumas vezes a generosidade humana.

A história de Hakin reflete a de milhões de outros refugiados que tiveram de fugir de seus países em busca de proteção. Muitos arriscam suas vidas e enfrentam perigosas viagens, às vezes fatais. Não podemos ignorar e fingir que está tudo bem.

Para quem gosta de uma boa história e gosta de quadrinhos, considero leitura obrigatória!

Paulo Lisboa

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Sou pesquisador, leitor e trabalho com quadrinhos desde 2008. Editei e diagramei mais de 50 títulos como freelancer para editoras nacionais, entre eles The Walking Dead / Os Mortos-Vivos, Spawn, Concreto, The Rocketeer, entre outros.

Em 2015 junto com alguns amigos, lançamos a Editora EDDA e publicamos “Biosfera Poética” e “Mishto” e participamos das principais feiras do meio como FIQ em Belo Horizonte-MG, Comic Expo em Santos-SP e Ilustradoria em Sorocaba-SP.

Fui palestrante no 1 CONAHQ – Congresso Nacional de Histórias em Quadrinhos (2016 – Recife-PE) com o tema “Nos Bastidores de uma HQ e para a Universidade Belas Artes (2020 – Sorocaba-SP) com o tema “Bastidores da diagramação de quadrinhos”.

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