Maternidade Real

26 de julho de 2022

Amamentar não é simples

Semana que vem comemora-se a SEMANA MUNDIAL DE AMAMENTAÇÃO, que deu origem ao Agosto Dourado, um mês inteiro pensado para incentivar e apoiar o aleitamento humano. Todos os anos a WABA (World Alliance for Breastfeeding Action) escolhe um tema para ser trabalhado. Em 2022 o tema é “Fortalecer Amamentação – Educando e Apoiando”.

Eu sou lactante e estou vivenciando os prazeres e desafios do aleitamento pela terceira vez. Se você já passou por essa “tela” no jogo da maternidade, sabe que o primeiro mês de amamentação poderia ser considerado um “chefão”. Além de lactante por três vezes, sou consultora em aleitamento certificado pelo IBCLC®, com mais de dez anos de assistência, estudo e apoio às lactantes e por isso achei o tema de 2022 um dos melhores!

Nas minhas consultorias eu sempre incluo o parceiro/parceira e todo mundo da família que possa estar por perto para ouvir e participar de toda discussão. O apoio e encorajamento dos que estão ali todos os dias fará muito mais diferença do que as poucas horas que eu terei com ela. Meu papel, então, é unicamente EDUCAR. Trazer informações embasadas e tirar dúvidas, orientando questões práticas como posicionamento, pega, observação dos lábios e língua do bebê, sinais de saciedade, etc. Mas quem vai dar forças nas madrugadas tensas, quem vai buscar um copo d’água ou uma fruta para comer enquanto a lactante está “na função”, não serei eu.

Não basta saber os benefícios do leite humano sem explicar que para esse leite chegar ao rebento a lactante vai precisar de uma rede inteira de apoio!!

Amamentar não é simples como parece!

Envolve dúvidas, sono, cansaço, abdicação, resiliência e por vezes até mesmo uma boa dose de dor. Quando uma pessoa que deseja amamentar não obtém sucesso, o demérito não é dela! Pode dividir essa conta entre todos os que estão envolvidos, a começar pelo obstetra e pediatra que não souberam orientar corretamente ou o parceiro(a) que não apoiou suficiente ou as avós que ao invés de formar uma ‘rede de apoio’ formaram uma ‘rede de agouro’ e some a culpa do governo que não ofereceu suporte suficiente para que ela pudesse ficar em casa mais tempo amamentando seu filho ou não obteve ajuda qualificada nas unidades de saúde e não menos importante, coloque uma parte na conta das indústrias de leite artificial que trabalham o marketing do “leite salva vidas”. O insucesso da amamentação, raramente é por culpa da fisiologia. Até mesmo a extrema cobrança (a auto cobrança e a cobrança das pessoas ao redor) pode ser culpabilizada já que o estresse pode bloquear a liberação dos hormônios envolvidos na produção e ejeção do leite.

Amamentar é complexo e envolve um círculo enorme de pessoas. Felizmente hoje a maioria das maternidades possuem um grupo de apoio ou um banco de leite para apoiar, orientar e auxiliar nos desafios do aleitamento. Se você está grávida, estude sobre o assunto, participe de grupos, tenha em mãos o contato de uma consultora em aleitamento, de um “consultório amigo da amamentação”, de um banco de leite humano (BLH) e mantenha por perto amigas que já passaram por essa fase e superaram as dificuldades. E se você está amamentando e enfrentando desafios, as mesmas dicas valem pra você com um adendo: não se cobre tanto! Coloque na conta de todos ao seu redor parte da sua angústia e dor. Você não deve e nem precisa passar por isso sozinha e carregar uma culpa imensa. Divida essa carga, siga mais leve, dê o seu melhor e curta muito cada fase do seu bebê. Eu te desejo sucesso absoluto nessa jornada e que você e seu bebê sigam juntos até quando for bom para ambos. Por aqui eu segui até o mínimo recomendado nos dois primeiros filhos (dois anos de aleitamento) e sigo há 1 ano e 7 meses com a caçula. Um dia por vez, às vezes sentindo muita alegria e às vezes me sentindo irritada em ofertar o seio pela enésima vez no dia. A única coisa certa e inegável é o quanto o leite humano fortalece o sistema imune das crianças. É nisso que eu me apego diariamente quando o cansaço quer me fazer desistir! Viva o tetê da mamain!

Ana Garbulho

Mãe do Bru, da Mel e da Maya, Obstetriz, consultora internacional em aleitamento humano, laserterapeuta, empreendedora, mulher, namorada do Má, apaixonada por vôlei e mais recentemente por Beach Tennis.