Alternativa saúde

2 de dezembro de 2022

Cannabis e seu efeito no diabetes

Há pesquisas crescentes investigando o uso de cannabis e os efeitos sobre o diabetes. Cannabis, ou maconha, é uma droga derivada da planta cannabis que é usada para uso recreativo, fins medicinais e cerimônias religiosas ou espirituais.
As plantas de cannabis produzem uma família única de compostos chamados canabinoides. Destes, o principal composto psicoativo (que afeta a função cerebral) é o tetrahidrocanabinol (THC). A maconha contém THC, bem como outras substâncias químicas psicoativas, que produzem a sensação de “chapação” que os usuários sentem ao inalá-la ou ingeri-la. Porém, há outros canabinoides não psicoativos, como o tetra-hidrocanabivarina (THCV) e o canabidiol (CBD), que demonstraram ter benefícios para o controle do açúcar no sangue e metabolismo em estudos de diabetes.

Possíveis benefícios da maconha

Uma série de estudos destacaram alguns benefícios potenciais para a saúde da cannabis para diabetes.
A pesquisa da American Alliance for Medical Cannabis (AAMC) sugeriu que a cannabis pode ajudar a:
? Estabilizar o açúcar no sangue – um grande corpo de evidências anedóticas está sendo construído entre as pessoas com diabetes para apoiar isso
? Suprimir parte da inflamação arterial comumente experimentada por pessoas com diabetes, o que pode levar a doenças cardiovasculares
? Prevenir a inflamação do nervo e aliviar a dor neuropática – a complicação mais comum do diabetes – estimulando os receptores no corpo e no cérebro
? Redução da pressão arterial ao longo do tempo, o que pode ajudar a reduzir o risco de doenças cardíacas e outras complicações do diabetes
? Manter os vasos sanguíneos dilatados e melhorar a circulação
? Aliviar cãibras musculares e a dor de distúrbios gastrointestinais
? Ser usada para fazer cremes tópicos para aliviar a dor neuropática e formigamento nas mãos e pés
Os compostos de cannabis também demonstraram reduzir consideravelmente a pressão intraocular (a pressão do fluido dentro do olho) em pessoas com glaucoma – um tipo de doença ocular causada por condições que restringem severamente o fluxo sanguíneo para o olho, como a retinopatia diabética grave.

Benefícios na insulina

Foi demonstrado que o THCV e o CBD melhoram o metabolismo e a glicose no sangue em modelos humanos e animais de diabetes. Um estudo de 2016 descobriu que o THCV e o CBD diminuíram os níveis de glicose no sangue e aumentaram a produção de insulina em pessoas com diabetes tipo 2, indicando um “novo agente terapêutico para o controle glicêmico”.1
Anteriormente, testes em camundongos mostraram que os compostos aumentavam o metabolismo, levando a níveis mais baixos de colesterol no sangue e gordura no fígado.
A empresa britânica GW Pharmaceuticals está atualmente desenvolvendo um spray de cannabis chamado Sativex, um medicamento prescrito usado para tratar espasmos musculares na esclerose múltipla. A GW pretende utilizar os compostos CBD e THCV no produto para ajudar na regulação do açúcar no sangue em pessoas com diabetes tipo 2.
Enquanto isso, um estudo separado de 2017 descobriu que o uso de cannabis estava associado à menor resistência à insulina em um grupo de pessoas com e sem diabetes.2 Um outro estudo de 2015 concluiu que o uso da cannabis foi associado a níveis mais baixos de insulina em jejum e HOMA-IR (medida que aparece no resultado do exame de sangue que serve para avaliar a resistência à insulina) e menor circunferência da cintura.

Tratamento para inflamação

O CBD é conhecido há muito tempo por possuir propriedades anti-inflamatórias e, como a inflamação crônica desempenha um papel no desenvolvimento da resistência à insulina e no diabetes tipo 2, a pesquisa está investigando sua eficácia na redução da inflamação no diabetes.
Um estudo de 2017 do Medical College of Georgia revelou que o tratamento com CBD reduziu a inflamação em modelos animais de diabetes, concluindo que “o CBD não psicotrópico é um candidato promissor para terapias anti-inflamatórias e neuroprotetoras”.4
Em 2015, pesquisadores israelenses da Universidade Hebraica de Jerusalém relataram que as propriedades anti-inflamatórias do CBD poderiam tratar diferentes doenças, como diabetes, aterosclerose e doenças cardiovasculares.

Tratamento para neuropatia periférica

A neuropatia periférica, caracterizada pela fraqueza, dormência e dor devido a danos nos nervos, é outra complicação relatada como aliviada pela cannabis. O estudo do Medical College of Georgia em 2017 também revelou que o tratamento com CBD reduziu a gravidade da retinopatia diabética em modelos animais diabéticos.
Outro estudo em 2015 viu que pesquisadores da Universidade da Califórnia deram a 16 pacientes, com neuropatia periférica diabética dolorosa, placebo ou doses únicas de cannabis, que variaram em intensidade de dose. Os testes foram realizados pela primeira vez na linha de base da dor espontânea, dor evocada e função cognitiva. Quanto maior o conteúdo de THC inalado pelos participantes, menos dor eles sentiram.

Tratamento para obesidade

Além disso, a pesquisa da GW Pharmaceuticals revelou que a cannabis pode ser usada para tratar doenças relacionadas à obesidade, como diabetes tipo 2, aumentando a quantidade de energia que o corpo queima.

André Freitas Cavallini

Dr. André Cavallini, médico da Clínica Gravital.
@clinicagravital

Formado pela Universidade Cidade de São Paulo, com residência médica pelo Núcleo de Otorrinolaringologia, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, e Medicina do Sono de São Paulo.

Certificado Internacional em terapias à base de Cannabis, pelo GreenFlower Academy.

Membro da Associação Brasileira das Indústrias da Cannabis (ABICANN).