Aposto que você está pensando que eu vou falar sobre dia de descobrir o sexo do bebê, não é?! Haha, te enganei! Você está esperando dicas para o “Chá revelação” e eu aqui querendo te alertar sobre outras coisas. O título era pra atrair sua atenção mas o tema é muito mais importante (sem desprezar o fato que saber o sexo do bebê pode ser importante pra você também).
Alguém já te explicou alguma vez sobre a necessidade do ultrassom e te deu algum direito de escolha sobre fazer ou não o exame?
Eu sei que é gostoso ver o bebê ali no exame de imagem, de ver nossa imaginação tomando forma e se mexendo… é realmente uns dos momentos mais emocionantes da gravidez! Eu adoro!
Mas, sendo obstetriz, já vi muitos onde o exame mais atrapalhou do que ajudou.
O fato é que para nós, enquanto gestantes, o exame é divertido e a gente adora sair de lá ouvindo “está tudo bem, seu bebê cresce e se desenvolve perfeitamente”. Mas o problema é quando a gente sai da sala do exame com uma notícia não tão boa ou até mesmo extremamente preocupante!
Vou ilustrar com alguns exemplos que já acompanhei: Há muitos anos uma conhecida de São Paulo, mãe solo, me contou que durante a gestação (não planejada) houve uma suspeita de que sua filha seria portadora da Síndrome de Down. Desesperada com a ideia de criar uma filha portadora de necessidades especiais sozinha, ela procurou informações e profissionais que pudessem dar alternativas ou mesmo um diagnóstico diferente.
No nosso país não há a opção da interrupção da gravidez, então lhe restou procurar o médico mais renomado da cidade para refazer o exame e dizer se de fato a filha teria grandes chances de ser sindrômica ou não. Pagou para realizar o ultrassom com o tal médico bam-bam-bam que lhe disse: “não tenho dúvidas que sua filha terá a síndrome”.
Foram dias angustiantes e estressantes, de busca de conhecimento sobre o tema, que a deixava ainda mais ansiosa e angustiada pois não teria tempo e condições de prover o melhor à Laura… Eis que todo estresse ajudou a desencadear um trabalho de parto prematuro e sua pequena nasceu às 34 semanas.
Eu conheci a Laura com 7 anos de idade e se sua mãe não tivesse me contado a história eu jamais imaginaria que em algum momento da vida a pequena teria tido uma suspeita de síndrome. Laura nasceu sem nenhuma alteração e só precisou enfrentar os desafios de ser prematura mesmo.
Mais recentemente, esse ano ainda, acompanhei um casal que planejava um parto domiciliar e às 39 semanas foram fazer um ultrassom de rotina (rotina do médico pois não é protocolo fazer ultra-som com essa idade gestacional). Contaram à nós, sua equipe, que o exame foi extremamente corrido, que não durou mais que 7 minutos e saíram de lá com um diagnóstico de ILA (índice de líquido amniótico) de 5,1cm. Ao ligar para o consultório de sua médica explicando que gostaria de um encaixe para falar sobre esse exame realizado (que obviamente a deixou preocupada) ouviu da RECEPCIONISTA: “vá imediatamente ao pronto atendimento! Você está com muito pouco líquido amniótico! Precisa resolver essa gestação”. Apavorada ela nos ligou e perguntou se o tal resultado impossibilitava o seu planejado parto em casa. Primeiramente explicamos sobre o índice de líquido amniótico e em seguida nos questionamos muito sobre a veracidade daquela informação. Pela palpação da barriga, não suspeitamos em nenhum momento de baixo líquido. No exame físico da semana anterior eu até havia brincado que o bebê estava numa “Jacuzzi” no útero.
Sugerimos que ela fizesse o exame com um médico renomado aqui da cidade, que atende numa clínica particular e sempre temos ótimos feedbacks sobre sua postura e laudos. Ainda bem que o casal pôde investir nisso e no mesmo dia que sugerimos conseguiram agendar para realizar o ultrassom. Com um exame minucioso (que eu acompanhei via zoom, ainda por cima – Coisa chique) o Dr. Martinez laudou um ILA de 14cm!!! Nem de longe havia pouco líquido! O desfecho dessa história foi lindo e o pequeno Heitor nasceu em casa como sonhado e desejado por seus pais!
Só vou me ater a dois causos pra esse texto não ficar grande demais mas eu poderia contar muitos outros!
Nas minhas três gestações o peso estimado dos bebês nas últimas semanas ficavam entre 4,1kg e 4,3kg pelo ultra-som e nenhum deles nasceu com mais de 4kg (Bruno nasceu com 3750g, Melissa com 4kg e Maya com 3800g). Mesmo sendo da área eu me preocupava em “nascer logo” porque a estimativa de peso já era alta, imagine quem não tem conhecimento.
As revisões sistemáticas de artigos científicos mostram que o excesso de ultra-sons aumentam as intervenções desnecessárias. Apenas dois ultrassons são necessários para gestações de risco habitual: um entre 8 e 14 semanas para averiguação da idade gestacional e translucência nucal e outro entre 21 e 24 semanas morfológico. Mais exames de imagem só são necessários se houver alguma indicação precisa.
Então você quer uma dica?
Não fique pedindo pro seu médico solicitar mais ultrassons pra você ver “o rostinho do bebê” porque você pode acabar ganhando uma “pulga atrás da orelha”. Curta o barrigão e os movimentos dele, se conecte com o baby de outras formas. Os exames de imagem, além de tudo, são caros para o sistema de saúde e essa prática de solicitação de exames desnecessários é o que acaba elevando os valores dos convênios.
Desculpe o sermão! Risos
Na próxima eu trago dicas de decoração para o chá revelação, tá?! ?