Era tarde.
O sol brilhava, mas não aquecia.
Ela estava sentada na cadeira de balanço que fica na varanda, de frente para o mar.
Era um privilégio que havia conquistado após muitos anos de dedicação e trabalho.
Durante toda a vida ela tinha apenas essa ambição: guardar dinheiro para comprar uma casa no litoral e passar seus últimos anos de vida observando a grandeza da natureza.
De madrugada, o som das ondas batendo nas rochas soavam como uma música tranquilizante.
Era nisso que pensava naquela tarde, sobre o quanto o mar trazia toda a paz que ela precisava.
Aliás, foi por causa do mar que ela conheceu o amor da sua vida.
Mas essa é uma outra história.
Hoje, sua mente refletia sobre todas as vezes que ela permitiu que algo tirasse sua felicidade, sabe?
Aqueles momentos que parecem que serão eternos de tão difíceis que são.
De quando ela chorava noites e mais noites sem encontrar saída para os problemas.
De quando se abatia por acreditar que merecia muito mais da vida, das pessoas, de si mesma, e recebia migalhas.
O quanto aqueles momentos eram importantes, agora?
O quanto esses momentos eram realmente importantes enquanto estavam acontecendo?
O mar, seu leal companheiro, mostrava todos os dias que o ir e vir é da natureza e faz parte do ciclo de uma existência.
Nada é.
Tudo está.
E quando não estiver, outras fases virão.
Outras coisas estarão e serão importantes, e elas também vão passar.
Sentada em sua cadeira de balanço, a noite chegava para fazer companhia.
A temperatura estava ainda mais baixa que antes.
Era hora de se recolher para o interior da casa com a certeza de que toda uma vida cabe nessa prosa dela com o mar, e que ele sempre estará lá para mais uma prosa, até ela mesma não estar.
Foto de Jennifer Chen na Unsplash