Elos, Fatos & Afagos

10 de janeiro de 2024

Espaço, privilégios e gangorra rosa chiclete.

Imagem: Gangorras rosa instaladas na fronteira entre México e Estados Unidos. A obra (Teeter-totter wall) é um protesto dos ativistas Ronald Rael e Virginia San Fratello contra as políticas de migração de Donald Trump. Fotógrafo: Christian Chavez/Reuter.


Feche os olhos. Vou te contar uma história.

Havia uma cidadezinha com nome de Sr. de meia idade, daqueles que tem bigode e usa chapéu, que brincava de amarelinha com uma outra cidadezinha que tinha nome de parque. Um dia, o giz de lousa amarelo deixou o espaço dos pulinhos pequenino demais. Juaréz e Sunland Park nunca mais quiseram brincar.

Oi. Fique de olhos fechados ainda e perdoe minha “ludiquez”, mas é necessário infantilizar o olhar para conseguir a nitidez da pequenice.

Seguimos. Ju e Sun viraram de costas uma para outra. Foi construído um muro de mal querer. O giz desistiu do chão. O riso desistiu da reciprocidade.

Até que, no meio do muro, em três frestinhas de luz que desafiavam a hostilidade, foi colocado o rosa para fazer ponte de brincar. Um balancés, seesaw, uma gangorra ROSA.

Um convite para olhar nos olhos, para ter diplomacia para convencionar as regras, para perceber o outro enquanto equilibra o corpo.

A gangorra é mais do que um convite.  Eu diria, inclusive, que de maneira lúdica, mas arrebatadora, ela te obriga a olhar que o movimento de um lado, simultaneamente, ocasiona impacto no outro.

É a arte de Rael e Virgínia nos chamando para tirar as vendas, para criar pontes em muros, para brincar com quem está do outro lado, para finalmente ver que fronteira é linha imaginária.

E entre tantos significados, criada para finalmente entendermos que (ser) humano é trazer consigo a consequência do ato em toda humanidade.

Agora, de olhos ainda fechados, pressione as pálpebras como se estivesse prestes a assoprar velinhas mágicas de aniversário e faça um pedido junto comigo:

– Que as nossas linhas de espaço e privilégios virem gangorras rosa chiclete. Amém.

Fernanda Padilha

Advogada, professora, especialista em Direito de Família e Sucessões e Doutoranda em Direito Civil pela Universidade de Buenos Aires, Argentina.

Escritora do Projeto Cultural Útero (Projeto aprovado pela Administração Pública Municipal e que tem como objetivo abordar pautas feministas de forma artística).

Amante da arte e defensora dos emocionados. Acredita no poder desmistificador das palavras e na força revolucionária do afeto.

  fernanda.padilha.ppndadvogados@gmail.com