Imagem: Gangorras rosa instaladas na fronteira entre México e Estados Unidos. A obra (Teeter-totter wall) é um protesto dos ativistas Ronald Rael e Virginia San Fratello contra as políticas de migração de Donald Trump. Fotógrafo: Christian Chavez/Reuter.
Feche os olhos. Vou te contar uma história.
Havia uma cidadezinha com nome de Sr. de meia idade, daqueles que tem bigode e usa chapéu, que brincava de amarelinha com uma outra cidadezinha que tinha nome de parque. Um dia, o giz de lousa amarelo deixou o espaço dos pulinhos pequenino demais. Juaréz e Sunland Park nunca mais quiseram brincar.
Oi. Fique de olhos fechados ainda e perdoe minha “ludiquez”, mas é necessário infantilizar o olhar para conseguir a nitidez da pequenice.
Seguimos. Ju e Sun viraram de costas uma para outra. Foi construído um muro de mal querer. O giz desistiu do chão. O riso desistiu da reciprocidade.
Até que, no meio do muro, em três frestinhas de luz que desafiavam a hostilidade, foi colocado o rosa para fazer ponte de brincar. Um balancés, seesaw, uma gangorra ROSA.
Um convite para olhar nos olhos, para ter diplomacia para convencionar as regras, para perceber o outro enquanto equilibra o corpo.
A gangorra é mais do que um convite. Eu diria, inclusive, que de maneira lúdica, mas arrebatadora, ela te obriga a olhar que o movimento de um lado, simultaneamente, ocasiona impacto no outro.
É a arte de Rael e Virgínia nos chamando para tirar as vendas, para criar pontes em muros, para brincar com quem está do outro lado, para finalmente ver que fronteira é linha imaginária.
E entre tantos significados, criada para finalmente entendermos que (ser) humano é trazer consigo a consequência do ato em toda humanidade.
Agora, de olhos ainda fechados, pressione as pálpebras como se estivesse prestes a assoprar velinhas mágicas de aniversário e faça um pedido junto comigo:
– Que as nossas linhas de espaço e privilégios virem gangorras rosa chiclete. Amém.