Elos, Fatos & Afagos

18 de setembro de 2023

Eu mudei o jogo para que ela nunca se permitisse ir para baixo da mesa.

Com o tempo, maturidade, 500 sessões de terapia, alguns tapas na cara, e decepções que renderam um pote de sorvete e algum filme mela cueca que você decidiu assistir apenas para “chorar” mais um pouco, você aprende a se colocar no topo.

E de uma maneira nada mágica aprende a estabelecer os seus limites.

Nós, mulheres, por uma questão puramente patriarcal, temos uma tendência deprimente em fazer muitas concessões. Justificamos a ausência, a falta de afeto, a sobra que é servida.

Fazemos um culto a migalha, por uma insegurança que é cravada na nossa pele desde que a gente veio ao mundo.

Na vida, eu vi muitas mulheres incríveis comendo migalhas embaixo da mesa. Criei 7 teorias nenhuma boa o bastante para explicar o que faz um ser faminto fingir que está satisfeito.

Toda mulher, por alguma razão estupidamente burra, já foi uma dessas mulheres.

Mas, eu não me permitiria gerar em meu ventre alguém disposta a fazer concessões para fingir que a barriga está cheia. Não botaria no mundo uma mulher a qual vocês ditassem que a única missão é ser aceita.

Eu mudei o jogo para que ela nunca se permitisse ir para baixo da mesa.

Fiz um contrato tácito com o meu próprio peito. Ouvi Nina e a tatuei na minha espinha “You’ve got to learn to leave the table when love’s no longer being served.”

Para isso, é preciso fazer um mergulho em si. Comer todos os pratos, passar fome algumas vezes, para entender que gosto tem a sua boca quando você come a vida.

E mulher tem muita fome. Desconfio que seja o bicho mais faminto do universo.

Tem algo na gente meio fásico, lunar e místico. Algo que devora a existência. Deve ser por isso, que do nosso peito jorra o alimento mais rico que existe.

Nina, crio para o mundo uma mulher que faz o seu próprio cardápio.

Fernanda Padilha

Advogada, professora, especialista em Direito de Família e Sucessões e Doutoranda em Direito Civil pela Universidade de Buenos Aires, Argentina.

Escritora do Projeto Cultural Útero (Projeto aprovado pela Administração Pública Municipal e que tem como objetivo abordar pautas feministas de forma artística).

Amante da arte e defensora dos emocionados. Acredita no poder desmistificador das palavras e na força revolucionária do afeto.

  fernanda.padilha.ppndadvogados@gmail.com