Pintura de Jen Mazza
– Quando é tempo de parar?
Sentíamos os quinze graus do inverno até então esperados na cidade conservadora.
Na janela uma cantoria de beija flores entusiasmados com o ainda raios de sol de um fim de dia, enquanto o ainda, o clima levemente aquentado nos aquecia através da janela. Alguns raios foram ousados, ousaram nos sentir.
– Me sinto quieta. Mas, quieta por dentro. Faz sentido?
Me sinto. Agora, me observo, mas do lado de dentro. É como se eu conseguisse olhar de lá.
Uma retrospectiva fora de hora marcada. Não parece?
O silêncio volta à cena sem cena.
– Quis ele vir. Permiti. O mundo sem barulho. O mundo que observa. O mundo que dá lugar ao som do silêncio. O mundo que me suspende. O que me coloca fora da minha cena. O mundo que me envia um convite singelo pra assistir a vida a partir de mim.
Minhas escolhas andam passando e me convocando para serem assistidas. Faz sentido? Tenho rido de mim. Tenho um rio em mim. As escolhas escolhidas desfilam aqui no dentro e aos poucos passaram da passarela pro palco. Parece mesmo que me chamaram porque desejavam ser assistidas. Por que escolhemos o que escolhemos? Do jeito que escolhemos. Ando pensando que nem tudo, não sempre, não necessariamente, contudo, foi uma escolha sabida. A coisa sabida e pensada, a que faz sentido.
Faz sentido?
Tenho escolhido andar de leve. Andar mais lento. Andar pausando. Observando. Andar devagar pra poder olhar. Olhar o fora e me observar olhando o fora e saber como todas as coisas me souberam.
Esse dentro tem me dado sentido.
Não me sinto substância, nem mesmo abstrata; não sou um objeto, uma coisa; sou o modo daquilo que sou. Meu ser não é uma forma substantiva, mas verbal. Meu ser não é um substantivo, apenas o verbo ser na sua forma infinitiva. Ando sendo movimento; sendo. Sou possibilidade em aberto, meu ser não é precisado, apesar de precisar. Não sou objetivada, aprisionada num único sentido.
Estou no devir das minhas possibilidades e sou, assim, em constante realização de quem posso ser.
Faz sentido?
