“Rogério de Campos entende do assunto. Um sommelier, mas no sentido etimológico da palavra – aquele que transporta o vinho (em bêtes de somme) para os castelos, e também o prova. Porque é o que ele é, um trabalhador e um provador, que constrói incansavelmente essa nossa história: quadrinho por quadrinho, num desenho mágico.”
– Laerte
Esqueça tudo o que você acha que sabe sobre quadrinhos. “HQ: uma pequena história dos quadrinhos para uso das novas gerações”, de Rogério de Campos, apresenta uma “pequena, subjetiva, incompleta história” do que se convencionou chamar “a nona arte”.
Partindo das origens orientais com os bophas, sacerdotes contadores de histórias que circulavam pela Índia desde o Século V (os mesmos que, de quebra, também inventaram o cinema), passando pelas técnicas pioneiras de impressão e produção de papel dos chineses até as criações de um certo professor suíço, Rodolphe Töpffer, o livro narra as as invenções e reinvenções que marcaram o desenvolvimento da linguagem dos quadrinhos.
Até chegar a marcos do Século XX, como a ascensão e queda dos super-heróis (e a forma como as grandes editoras norte-americanas se aproveitaram da censura para voltar ao topo do mercado), a geração gekigá de Tatsumi e Tsuge, que inspirou os jovens japoneses a tomarem as ruas, o escandaloso affair da Valentina de Crepax com Leon Trótski. Além do assassinato precoce dos quadrinhos eróticos brasileiros pelas mãos da ditadura militar.
Uma coedição da Veneta com o Sesc, “HQ: uma pequena história dos quadrinhos para uso das novas gerações” é um passeio deliciosamente subversivo pelos tantos cenários, nomes e situações que construíram essa história, em todas as suas versões e narrativas. Um livro capaz de surpreender tanto os iniciados quanto aqueles que nunca leram um gibi. Afinal, como dizia Harvey Pekar, “Quadrinhos são palavras e imagens. Você pode fazer qualquer coisa com palavras e imagens”.