Dias desses estava pensando se tinha algum plano apocalíptico (do universo, claro) pra fazer minha vida mudar completamente.
É sério, tem horas que não sei o que mais pode acontecer e eu chamando de imprevisto.
De quantos imprevistos uma vida pode ser feita?
Quantos “a máquina quebrou”, “não foi dessa vez”, “mãe, tô doente” podemos viver?
Aquela eterna sensação de não ser suficiente acaba batendo.
Seria a síndrome da impostora ou é verdade esse bilhete de que não sou a super mulher?
Enfim, o universo poderia conspirar com um plano mirabolante onde eu acordasse pensando em problemas do tipo: ” hoje tenho aula de francês de novo e depois preciso dar aula naquela universidade, ufa, dia cheio”, tudo isso lá em Paris, claro.
Sofrer lá nem soa como sofrimento pra mim.
Mas eu não estou lá. Estou aqui e já são 18h30 de uma quinta-feira qualquer.
Entro no apartamento e vejo dois rostos se iluminando quando abro a porta.
“Oi mamãe, como foi seu dia?”, a minha pimentinha pergunta. Completa a frase dizendo “fiz bolo de caneca pra você, achei que estaria com fome”.
O cansaço não me deixa transbordar o tanto de gratidão e amor que tenho naquele momento, mas espero que ela tenha sentido isso no beijo que dei em sua testa.
Já a outra, sempre mais contida, fala sobre a mais nova treta do fandom do RPG.
O celular notifica: “como foi seu dia, amor?”.
Meus gatos roçam em minhas pernas, pedem cafuné e ração, claro.
Quer saber, o universo não precisa de um plano pra tudo mudar. Nem quero mais acordar em Paris. E os imprevistos não são nada perto do que sinto quando entro em casa e fecho a porta.
Tudo que eu preciso está exatamente aqui.