Incondicionalmente.
Eu te amo incondicionalmente, ele disse.
Fiquei pensando no que seria amar assim.
Sem condição, sem estar condicionado.
Ele não me ama só porque fiz a sobrancelha esse fim de semana, ou porque emagreci dois quilos.
Também não deve ser porque dou risada de forma contida, como uma boa moça deve fazer.
Nem porque a última palavra é sempre dele.
Talvez a única condição seria não usar decote profundo ou roupa curta, quem sabe.
Mas ele disse incondicionalmente, então isso também não o afeta.
Não fez uma lista do que eu preciso fazer pra que continue me amando.
E agora, como vou saber o que fazer?
Desde pequena aprendi que se não for uma boa moça posso não agradar o suficiente.
Posso não ser amada.
Seja obediente.
Pouca maquiagem.
Feche as pernas ao sentar.
Não se meta em assuntos polêmicos.
Uma menina de muita fé e pouca ação.
Deixe que alguém decida por você.
O pai, o irmão, o chefe.
Incondicionalmente.
Eu te amo incondicionalmente, ele disse.
Mesmo eu soltando um “mano, que porr@ é essa”.
Mesmo dizendo que não quero vê-lo naquele dia.
Mesmo que as pernas não estejam raspadas, que o cabelo esteja embaraçado e eu use moletom e chinelo.
Ainda que eu repita mais vezes que amo meu gato, do que digo a ele.
Até mesmo quando levanto a minha bandeira de que lugar de mulher é onde ela quiser.
Mesmo que eu ria alto no meio de um bar e discuta com aquele macho escroto que estava assediando a garçonete.
Eu posso ser livre.
Posso ser eu mesma.
Ele não tem medo de mim.
Eu não tenho medo dele.
Incondicionalmente.
Eu te amo incondicionalmente, ele disse.