Ainda não sei, mas vou saber

27 de fevereiro de 2023

Manhãs

Foto: Kinga Cichewicz

Eu olho pela janela, ainda são 5h50 da manhã.
O dia parece que ainda está se espreguiçando.
Sobe o cheiro de café. Um bocejo longo o acompanha.
O céu tem cor de dúvida: o que me aguarda hoje?
Repouso a xícara sobre a mesa, ela tem tempo de sobra. Fica ali, aguardando o momento de ser tomada pelas minhas mãos, novamente.
Será que vai dar tempo de mais um gole?
O relógio não faz tic-tac – digital, sabe?
Bons tempos onde algo fazia barulho, do tipo: “hey, está na sua hora, não se atrase”.
Hoje tudo vive silenciado.
O celular não toca e nem vibra.
As músicas estão concentradas em fones imperceptíveis.
Os pássaros ainda cantam, mas quem os ouve?
Nossa, o tempo está passando!
Tic-tac em silêncio.
Não dá mais tempo para tomar o café.
A vida pede passagem para acontecer insanamente. Cheia de ruídos por fora. Cheia de silêncios, por dentro.
Olho de novo pela janela, a vida lá fora já acordou.
Carros, buzina, gritos, beijo de despedida. São 6h30.
O que mudou em tão pouco tempo?
O que mudou lá fora?
O que mudou aqui dentro?
Tic-tac.
Um coração silenciado, cansado de uma vida barulhenta.

Aline Amorim

Jornalista, Pós-graduada em Acessibilidade, Diversidade e Inclusão, mãe de meninas e pets.