Mas, sorte a nossa que ainda existe a Arte para lavar o Brasil.

No dia 15 de novembro, eu assisti ao filme Ainda Estou Aqui. Fui pela arte, por Fernanda e, sem me atentar, confesso, ao tema central do filme. Mas, em alguns segundos, Selton já fazia de Rubens um laço. E, em minutos, a ditadura fazia seu efeito visceral.
Saí do cinema enjoada e, embora eu seja dona de uma sensibilidade que vive no talo, estranhei a intensidade dos efeitos físicos daquele filme em mim. Uma história real, com atores à altura do golpe no coração brasileiro, mas era mais do que isso. A ditadura me feria com toda a intimidade de quem não veste fantasia.
Me perguntei se a razão era pela proximidade histórica dos fatos ou porque, por frações de segundos, quase fomos burros o bastante em convidar Emílio para sair das tumbas e tomar um chá.
Na verdade, quase acreditei nessa utopia enquanto escrevo. Por muito tempo, e por uma ideia de que “a sociedade não retrocede”, eu achei que era necessário reviver um morto para uma tentativa de golpe de Estado. Mas, o nosso ex-Presidente e sua cúpula estão aí para nos mostrar que não. É possível emburrecer.
Enquanto nossa população se dividia entre ódio e o confronto ideológico, nos tornávamos o cenário perfeito para um golpe de Estado que, até então, era tratado como “meras conspirações vitimistas da esquerda”.
Hoje, “as lendas da esquerda” se despem da fantasia e mostram os seus dentes em um inquérito no qual a Polícia Federal indiciou Bolsonaro e outras 36 pessoas por crimes como abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. A tentativa de trair a democracia não foi uma narrativa.
Mas, sorte a nossa que ainda existe a Arte
para lavar o Brasil.