Plástica sem mistério

25 de julho de 2022

Muita atenção aos “profissionais”

Tenho uma pergunta que guia minha atuação profissional: “Faria esse procedimento em alguém da minha família?”. Esse questionamento é importantíssimo para garantir a responsabilidade e o zelo do meu trabalho. E é o que considero como norte também quando estou repassando meu conhecimento aos residentes de cirurgia plástica.

Nos últimos dias, temos visto algumas notícias tristes envolvendo sobretudo um médico que atuava no Rio de Janeiro. Um equatoriano que trabalha no Brasil há um bom tempo, inclusive. A ele, recai um histórico imenso de denúncias e investigações relacionadas à carreira (se é que assim pode se dizer) de cirurgião plástico.

O médico chegou a ser preso, aliás, acusado de manter uma paciente em cárcere privado. Até o Fantástico chegou a mostrar a situação da mulher, que afirma ter ficado com a barriga necrosada depois de um procedimento. E o que chama ainda mais atenção nessa história é que o cirurgião já não deveria estar trabalhando desde dezembro do ano passado. Isso porque o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) suspendeu seu registro, alegando que ele violou artigos do Código de Ética Médica.

Na denúncia do Fantástico, foi exposto que o médico compartilhava tabelas com preços de cirurgias – até bem abaixo do mercado – em grupos de WhatsApp.

Essas condutas todas me fazem levantar mais uma vez a importância de se pesquisar bastante antes de decidir por qualquer procedimento. Lembre-se daquele ditado clichê, mas importante: o barato pode sair muito caro.

É até por isso que sou enfático quando costumam me perguntar o preço médio de cirurgias. Depende. Cada caso é um caso, não há como divulgar valores tabelados. Cada paciente é uma vida, uma grande responsabilidade em nossas mãos.

Medicina é um ofício difícil e há muita gente não capacitada querendo se aproveitar do desejo alheio de melhorar a autoestima. Uma tremenda irresponsabilidade.

Para se ter uma ideia apenas sobre o começo de uma carreira de cirurgião plástico: são necessários seis anos de faculdade de medicina, mais dois anos de residência em cirurgia geral, além de outros três anos de especialização em cirurgia plástica. No mínimo 11 anos de investimento e esforço. Isso sem dizer nos anos seguintes de estudos que não param. Não é um curso de fim de semana que vai habilitar a fazer muitos procedimentos, o que tem sido visto por aí.

Tenho uma carreira pautada em prol de todos os pacientes que atendo. E sei que muitos colegas de profissão também carregam esse compromisso em suas trajetórias.

Um médico que não leva essa premissa não pode definir uma classe toda. De qualquer forma, quando algo assim acontece e fica em pauta, é fundamental lembrarmos mais uma vez aos pacientes sobre a importância de buscar referências e não “entregar” sua vida a qualquer um.

Como comentei na última coluna, hoje, com a internet e as redes sociais, tudo fica um pouco mais tranquilo: é possível fazer uma busca nos Conselhos de Medicina, observar e checar recomendações, possíveis problemas anteriores relacionados a determinado médico e sua equipe, e assim por diante.

Esteja vigilante. A sua transformação de vida merece atenção e trabalho dignos.

Marcos Bercial

Formado em Odontologia pela Unesp de Araraquara e em Medicina pela PUC-SP.

Marcos Bercial se especializou como cirurgião plástico na implantação de próteses de silicone, mastopexia, abdominoplastia, lipoaspiração e rinoplastia estética/funcional.

  bercial@hotmail.com