AFETadOS

30 de junho de 2023

Nossas histórias é que são contadoras de nós 

📷 FOTO: do Dronner, Barista e Trilheiro/Montanhista André Duílio

Presentes. 

Já pararam para perceber que quando estamos presentes a vida nos dá presentes? 

A vida tem disto. Parece que ouve nossa prece, sem pressa e, conforme caminhamos, vamos recebendo embrulhos, ora bem embalados, outrora escancarados com laços amarrotados, assim, na nossa frente, na medida que nossos olhos e nossa pele estão maduros o suficiente para ver e sentir de fato os fatos. Sentir. 

9 de junho. 5h. Minas Gerais. Airuoca. 10º. 

A vida também nos testa, coloca provas, nos verifica, creio eu que é para avaliar se ainda podemos caminhar sobre ela. 

A vida improvisa e não avisa! 

Já pararam para sentir cada p e d a c i n h o destes presentes? 

Já faz um certo tempo, me deparei e tive olhos para ler alguns textos de Ana Quintana Arantes, médica, escritora, professora e ativista da cultura do cuidado. Todos os textos lidos e livro absorvido, me deram de presente o olhar, mas um olhar cuidadoso, minucioso e interessado em querer viver sentindo, para poder construir meu sentido. 

7 km a mais presenteados por uma embreagem cansada! 

Parecia que a vida tinha acordado inspirada.  

Já pararam para ouvir a vida? 

Ela grita no vento, ora forte, ora lento. 

Os dedos das mãos estavam quase endurecendo. O sol ainda não tinha nascido. 

Eu observava outros trilheiros. Alguns já distantes. Outros, um pouco mais perto. 

Sentia o vento que encontrava meu corpo suado. 

Observar nos proporciona momentos interessantes. Temo. A vida vem com perguntas espertas, capciosas e se não estivermos presentes, perdemos a oportunidade de aprendermos mais sobre nós. 

A essa altura o sol já iluminava o caminho. 

Já estávamos subindo. Passo a passo. Respiração. Vento. Frio. Pensamentos. 

A Tra ves sia já havia iniciado. 

O silêncio me convoca, evoca e provoca a atravessar alguns caminhos da minha vida. E então, me faz o convite para poder ser atravessada. 

Alguns momentos relembrados com dor, outros me arrancam risos internos. 

Observo novamente os trilheiros. E olho para meu ritmo. Paro. 

– Mulher, respeite o seu ritmo! 

– O único desafio aqui é com você! 

Ele, um trilheiro muito mais experiente, especialista em rapel, mal sabia ele que tinha me convidado a descer para dentro de mim. 

Ritmo. 

Era isso. Parece que seria meu tema nesta Travessia. 

45 anos e meio vividos. Parte deles não sentidos. Escolhas… 

Fazendo de tudo para ver a vida de perto. Para estar viva quando a morte chegar. 

R i   t     m      o. 

Tempo. 

Vi                                                                                                                                                                        da. 

No seu último livro, “O sentido da Vida”, o psicanalista e escritor, Contardo Calligaris, nos alerta que as qualidades das nossas experiências não são definidas quando podemos ficar sorrindo do começo ao fim. Mas, que todas autorizadas e tecidas por nós são “interessantes”. Nos acrescentam, nos subtraem. E nesta construção, responsabilidade nossa, seríamos presenteados com momentos felizes. 

Nesta Travessia sorri, mas chorei muito. Cansei. Transpus Montanhas.  

Mas, uma das conquistas mais interessantes, poder olhar para meu ritmo, minha construção, respeitá-lo. 

Quando penso que um passo 

Descobre o mundo 

Não paro o passo 

Passo 

Um novo mundo nasce 

“Alice Ruiz” 

Gratidão @viamatas, Grupo de Trilheiros/Montanhistas @travessias_travessuras e principalmente, Ronaldo Andrade, “Presidente”, você me acompanhou no meu ritmo e me ensinou a respeitá-lo, porque ele é meu. 

Angélica Fontes

Psicanalista Winnicottiana, Educadora e Professora de Psicanálise e aprendiz de Psicologia.