Créditos da imagem: Victória Starck Schwanz
Domingo.
Já era Primavera.
15h30.
Tarde quente.
Assentamento Bela Vista.
A cozinha exalava o cheiro afetuoso dos grãos moídos e preparados pelas mãos precisas e marcadas pela luta e pelo tempo.
No cabelo um pedaço de tecido xadrez branco e cor de açafrão, cuidadosamente entrelaçado brincava em curvas entre os fios ondulados.
Olho com cuidado numa tentativa de quem sabe conseguir parar o tempo. Perder os detalhes do feitio do afeto líquido seria perder a chance de quiçá aprender um pouco da magia de Maria.
Sim, Maria tem magia. Tem segredos. Tem receitas de passos dados.
Maria olha longe, fita os olhos, aperta de leve quando fala algo sério, balança como uma dança quando o assunto fica sério.
Dezenove de junho, lá por perto de 1960, a cidade de Juramento, perto do Rio Saracura da Baía de São Francisco, comecinho da madrugada, recebe a menina Maria. Juramentista esperta, desperta para a vida.
Assim, Maria cresce.
Em estatura, cheia de graça e pronta pra luta.
Aos oito anos não se conforma com o “não saber”. Encara, indaga e propaga os segredos sobre o ler e o escrever.
Pela presença e dedicação daquela menina, onze mulheres descobrem caminhos através das letras, formas e fonemas…
Assim, leem o mundo e tudo o que nele há.
Maria sente o cheiro de quem não tem voz, ensina a olhar. Maria fala quando não há fala.
Maria leva as outras!
Creio que um dos motivos de eu estar ali era poder ser levada pelas histórias de Maria.
Assim, se fez.
Enquanto o tempo era contado pelo canto dos passarinhos, pelo vento que balançava lá no quintal perto da Plantação e pelos miados do gato levado, Maria contava e me encantava.
O café coado e o bolo quentinho compunham o cenário de cada história inspirada e respirada por Maria.
Maria, nasce Mãe quatro vezes. Maria pari e fortalece mundos e parte deste mundo afora já recebeu suas ideias, auxílio, voz, músculos, choros e conhecimento. Maria, Engenheira Social. Gentista. Agrônoma. Maria que compõe e tece ideias sobre a terra. Maria que ara terra, ara vidas, ara saberes, ara sonhos…
Maria que dá bom dia aos passarinhos e proseia com joaninha!
Maria que combate o veneno das plantações e corações.
Maria que tem ditos seguidos de risos. Construídos com suor, livros e dias não dormidos.
Maria brinca com a vida, mesmo que a vida não brinque com ela.
Maria que defende a Ocupação deste mundo, o direito à terra, de pisar e andar. De plantar e colher, direito de ser. De gerar e colocar pra dentro dos corpos famintos alimentos que nutram de fato, libertem, expandam o ser!
Maria que explica, ensina, debate e prova o que diz!
Maria da Agroecologia, do bem viver, esta que preserva, cuida do planeta, cuida das relações e das pessoas. A luta de todo dia. De um Brasil roubado, colonizado, controlado e envenenado!
Maria sabe.
Vive o que diz.
Maria que é Maria.
Mas, o que dizem os olhos de Maria?
Para mais informações acesse: (o saber liberta!)
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@naacufscar – Núcleo de agroecologia Apetê Caapuã (Ufscar Campus Sorocaba)