Eu nunca planejo o tema que vou escrever aqui na coluna. Eu o deixo vir como uma inspiração e assim foi que cheguei no tema de hoje.
Ontem no grupo de mães da escola dos meus filhos, uma delas perguntou se deixaríamos as crianças irem ao passeio do Dia das Crianças com a escola, pois ela sentia medo e nunca havia deixado. Eu respondi dizendo que sempre deixei, que eles voltam extasiados e cheios de memórias que serão eternas de eventos como esses. Entendo o medo dessa mãe, mas realmente me pergunto como deve ser chato ser filho de alguém que te prive de eventos tão legais com todos os amigos da escola.
À noite meus filhos pediram pra assistirmos “Procurando Nemo” novamente (pela enésima vez na vida). Nada é por acaso né?! Olha o filme que eles pediram! Justamente o filme de um pai que, tentando proteger seu filho de tudo, o expôs a um risco ainda maior por reatividade à sua falta de confiança nele.
No meio do filme, Dory (a peixinha azul muito inocente e engraçada) e Marlin (o peixe palhaço, pai do Nemo) estão conversando e Marlin diz: “Ah não… eu prometi que nunca ia deixar nada acontecer com ele! “e Dory com seu jeitinho fofo responde: “Ué, mas se você não deixar nada acontecer com ele, nada vai acontecer!”
E foi exatamente nessa hora que me lembrei da conversa mais cedo no grupo de mães!
Será um excesso de zelo ou um egoísmo enorme o nosso não permitir que nossos filhos explorem a vida? Estamos sempre olhando nossa cria como seres inocentes, incapazes, indefesos e isso é o que os torna infelizes! Acreditar que sua educação, suas orientações e sua calma ao tratar assuntos importantes com eles podem ser suficientes para que eles se sintam capazes, felizes e independentes é o maior presente que você pode dar ao seu filho nesse dia das crianças.
Não é privá-lo de fazer o passeio que o fará feliz. Também não é “largá-lo” em qualquer lugar. É oferecer uma liberdade assistida (assistida no sentido de assistência), é explicar o que pode acontecer no passeio que não seria seguro ou legal, é dar autonomia (olha eu de novo falando de autonomia nessa coluna! Tô ficando monotemática).
Comece fazendo um exercício simples: ao invés de dizer “você vai cair daí!” quando ele subir no escorregador e querer se pendurar de forma inusitada (porque ele está tentando explorar o próprio potencial e as diversas formas de usar aquele brinquedo), tente dizer: “filho, você está sentindo que consegue segurar firme dessa forma? Está seguro? Pois olhando daqui me parece um pouco perigoso ficar pendurado assim.” E se conseguir ir além, pode dizer: “Sinto orgulho de você quando vejo que está explorando suas habilidades com cuidado para não se ferir”. Acredite, eles entendem!
Por mais que tentemos proteger nossos filhos de tudo que possa ser perigoso, é impossível que isso aconteça. Minha sobrinha e afilhada (minha Manoela) conseguiu abrir a testa num espelhinho de tomada quando se abaixou para pegar um pente que havia caído. Que perigo isso parecia oferecer? A minúscula quina de um espelho de tomada! Pois ela precisou de uns 4 pontos na testa nesse dia! Teria como ter evitado isso?
Confie! Trabalhe isso nessa relação. Aos poucos… Substituindo o “Eu falei que você ia se machucar” por “Estou aqui! Sei que está doendo, mas é isso que acontece quando estamos fazendo testes novos. Como você pode evitar que isso aconteça de novo?”
Não é fácil e nem instintivo. É um trabalho árduo e de persistência. Nosso primeiro impulso é proteger e fazer pelo outro, é negar a permissão e usar de desculpa que está fazendo isso pelo bem dele. Mas veja: se você vier a faltar, como ele vai se proteger? Pense nisso! E lembre do que a Dory disse: “se não deixar acontecer nada, nada vai acontecer!”. Crie filhos fortes e independentes.