Ainda não sei, mas vou saber

10 de maio de 2023

Talvez

Peguei meu vinho barato, doce e gelado.
Sentei próxima à janela para observar, não sabia o que, mas precisava de algo que me tirasse da mente barulhenta que me atormentou o dia todo.
A paz de um horizonte vazio era tudo que precisava.
Logo subiu um cheiro de perfume masculino.
Era sábado à noite, será que ele iria a um encontro?
Já não importa.
A essa altura eu entendi que a noite de sábado não é a mesma para todos.
Enquanto no apartamento 201 as adolescentes gargalhavam e ouviam música, a viúva do 103 pulava de um canal para outro a fim de buscar uma companhia reconfortante.
Da minha janela vi aquele casal do térreo chegando com o carro cheio de compras. Os filhos saltam do carro, assim que ele pára, e aproveitam os minutos longe dos olhos dos pais para correr pelo condomínio.
Minha taça está seca de vinho e úmida de lágrimas.
A noite de sábado para uma mãe divorciada pode ter nuances muito distintas.
Um encontro casual para conhecer aquele cara do app? Ou pedir uma pizza e assistir Netflix?
Sair com as amigas? A única que se faz presente é a minha gata que roça minhas pernas, pedindo carinho.
Umas estão casadas, outras estão solteiras (as amigas, sabe).
Eu?
Ainda me encontrando nesse abismo que se abre quando percebo que não sou mais a mesma de antes e ainda não sei quem serei.
Vou sendo como posso, um passo de cada vez.
Um sábado por vez.
O outro pode ser surpreendente. Quem sabe?
Talvez.

Foto de Alfonso Scarpa na Unsplash

Aline Amorim

Jornalista, Pós-graduada em Acessibilidade, Diversidade e Inclusão, mãe de meninas e pets.