Dá Trabalho

1 de maio de 2023

A maior ferramenta social que existe

Lembro ainda hoje claramente da primeira vez que ganhei um dinheiro com meu próprio trabalho. Ganhei alguns trocados ao vender esterco que seria utilizado como adubo. Com a ajuda de um saco de feijão vazio, eu mesmo coletava, separava no pasto, ensacava e oferecia aos vizinhos da rua. No interior de Minas, onde eu morava, havia abundância de criação de gado e aquela foi a primeira oportunidade para ganhar meu próprio dinheiro.

Mais velho de três filhos, qualquer pedido diferente era tido como um luxo, por isso, ainda moleque, inventava coisa ou outra para comprar figurinhas colecionáveis. O tempo foi passando e mais velho, já em Sorocaba, meus propósitos para trabalhar eram outros. Tornei-me pai ainda jovem e as responsabilidades que adquiri a partir daquele momento eram bem maiores que os ensejos de criança. As lembranças dessa época, em uma data tão especial como hoje, dia do trabalho, me fazem refletir sobre esse tema que mistura e envolve tantos objetivos e sentimentos. Afinal, qual a importância do emprego na vida das pessoas?

A noção de trabalho que temos hoje é bastante diferente de épocas passadas. Durante grande período da história ocidental, o conceito de trabalho era tido como algo ruim e degradante. Na antiguidade, era considerado como uma espécie de maldição divina, uma punição pelo pecado original. O homem estava condenado a “suar” para ganhar o próprio pão como um castigo pelo pecado original de Adão e Eva, que foram expulsos do paraíso, onde desfrutavam de abundância de frutos e não existia dor.

Ao longo dos anos, o conceito de punição foi substituído por um ideal de servir a Deus, cuja recompensa seria ter as portas do paraíso abertas após a morte. Já no século XVI, com a reforma protestante defendeu-se a ideia de que a diferença entre os condenados ao inferno e os salvos seria pela disciplina do trabalho, pois Deus redimiria quem se dignificava através do trabalho.

Percebe-se que desde os primórdios, trabalhar era tido como uma penalidade, entendimento que, de certa forma, ainda paira sobre nossa cultura. Esse conceito, confesso, me deixa incomodado. O trabalho proporciona que se saia de casa com um propósito, seja de comprar algo ou conquistar alguma meta profissional, como também de ser útil para a sociedade, fazendo algo em que se é habilidoso e ser pago para isso.

Como pode se considerar ruim algo que nos proporciona colaborar com o mundo ao nosso redor e ter uma vida mais confortável? O emprego é a maior ferramenta social que existe!

É claro que, no mundo em que vivemos, o sistema trabalhista como conhecemos, de “empregado e empregador” encontra inúmeros problemas, com relatos de condições inadequadas de trabalho, colaboradores sem registro, assédios etc. São questões muito sérias que precisam ser amplamente combatidas e discutidas por políticos, entidades e sociedade como um todo. Melhores condições de trabalho nunca podem sair de pauta, que fique claro. Ainda que careça de constantes reformas e melhorias, é um sistema que funciona.

Interessante observar que até pouco tempo não existia o conceito de emprego como conhecemos atualmente. Essa definição é mais recente e bastante diversa de trabalho, que existe desde o princípio da humanidade. O trabalho surgiu no momento em que o homem começou a intervir no meio ao seu redor e a montar as primeiras ferramentas rudimentares para buscar formas de se alimentar. Pode-se dizer que a trajetória do homem e a do trabalho nasceram e andaram de mãos dadas até aqui.

Com o surgimento dos primeiros processos industriais e tecnológicos na Inglaterra, na segunda metade do século XVIII, período conhecido como Revolução Industrial, surgiu a definição de emprego que conhecemos hoje. Com a chegada de máquinas nos processos do campo e a queda do trabalho no meio rural, as famílias migraram para as cidades em busca de oportunidades. Assim, passaram a vender seu tempo e força de trabalho. O emprego passou a ser a principal forma de sustento das famílias.

Desde então, com a evolução cada vez mais rápida de tecnologias e com a globalização, que criou relacionamentos econômicos, comerciais e sociais entre os países, cresceram também os espaços de trabalho e a necessidade de mão de obra.

Hoje, escolher uma profissão, bem como entrar e permanecer no mercado de trabalho são assuntos discutidos desde sempre nos lares. A vida profissional é uma parte fundamental na vida moderna e testes vocacionais são aplicados com mais frequência nas escolas, já que ajudam a identificar as qualidades dos alunos e dar uma direção para que, mais do que bons profissionais, tenham identificação com a ocupação que pretendem desempenhar. Mais do que trazer sustento pessoal e familiar, ter um ofício, uma profissão, oferece ainda grata satisfação pessoal, pura e simplesmente por realizar um trabalho bem feito.

Conseguir um novo emprego, e faço questão de frisar o “conseguir”, pois é justamente dessa forma que é tratado: como uma vitória, uma conquista de alguém que, possivelmente, passou por momentos apertados em razão do desemprego.

Foi justamente em um período difícil de minha vida, quando estava em busca de uma nova oportunidade, que uma inquietação, um sentimento que não sei classificar o nome, aqueceu dentro do meu coração. Queria contribuir com as pessoas, colaborar além das paredes de minha casa, de forma que ecoasse para o resto da sociedade. Assim, em meu intuito de impactar, fui surpreendido por um email com vagas de emprego em minha caixa de entrada. O remetente era o professor de engenharia, Hudson Pissini.

É difícil definir em palavras como aquele email me sensibilizou. Achei um gesto tão generoso, que quis fazer o mesmo. Queria colaborar com as pessoas que estavam buscando emprego. E assim comecei. Criei um grupo no Facebook, adicionei alguns amigos e comecei a postar as vagas. Passava a noite e madrugada adentro buscando e postando as vagas no grupo. Era uma forma de ajudar as pessoas e principalmente a mim, que buscava um propósito. Tudo mudou quando as primeiras mensagens de pessoas que haviam conseguido um emprego começaram a chegar.

Ali, a história da minha vida e o real valor do trabalho haviam se entrelaçado de maneira inseparável. O grupo cresceu e muito. Hoje as vagas do Parceria Social de Emprego, grupo que criei em 2012, são enviadas diariamente por whatsapp, telegram e linkedin, além de mais de 300 mil integrantes no Facebook. Em 10 anos de trabalho, totalmente voluntário, cerca de 100 mil empregos foram conquistados.

O projeto cresceu, virou uma grande rede de empregabilidade e hoje é uma referência na região. Este mesmo grupo me elegeu vereador com uma votação histórica, sendo o estreante mais bem votado da história da cidade. Hoje, além de postar as vagas, consigo diariamente defender políticas públicas para geração de empregos, estímulos ao empreendedorismo e qualificação profissional.

Assim como praticamente tudo na vida, trabalhar dá trabalho… Mas a sensação de concluir algo bem feito, ser útil com o universo ao seu redor e construir nossa própria humanidade, não tem preço.

Péricles Régis

Quer receber as vagas de emprego? Me chama no whats: (15) 98144-0844

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Péricles Régis

“O cara das vagas”, como é conhecido, é criador do Parceria Social de Empregos, projeto social de compartilhamento de vagas que já ajudou cerca de 100 mil pessoas a se recolarem no mercado de trabalho. Péricles Régis está em seu segundo mandato como vereador em Sorocaba. Eleito por duas vezes com campanhas custo zero, abdicando inclusive do fundo eleitoral, tem forte atuação em articulações de políticas públicas para geração de emprego, estímulos ao empreendedorismo, qualificação profissional e educação política.