Elos, Fatos & Afagos

9 de maio de 2023

“A maternidade é a arte de equilibrar amores.”

Minhas amigas sempre me perguntam o que é a maternidade ou o que a maternidade mudou em mim. Sempre me questionam se eu as aconselharia ser mãe um dia…

A minha resposta virou clichê, mas não encontro qualquer outra definição que chegue mais próxima do “tsunami Manuela” no meu caos interno:

– “A maternidade é a arte de equilibrar amores”, eu digo.

É que para um ser totalmente passional, nenhuma onda e nenhum outro amor foi tão promissor em colocar em ordem e completo equilíbrio meus sentimentos. Manuela sim. Foi como ver nascer do meu ventre um amor capaz de nomear todos os outros amores.

Um tsunami veio arrastando tudo e não, definitivamente, ser mãe não é “padecer no paraíso”. É padecer nas suas próprias entranhas. Você submerge dentro de si, entre picos emocionais e perda de identidade, entre uma privação absurda de sono e por um tempo, uma completa abdicação de qualquer tipo de vaidade.

Você cheira a leite e se torna um animal instintivo. Gosto dessa parte, ser mãe te faz acionar um “q” selvagem.

Foram muitas madrugadas com leite escorrendo pelo meu corpo e acordando há cada uma hora para colocar o dedo embaixo naquele narizinho que soprava uma brisinha quase imperceptível.

Foram muitos dias com um choro que fazia eco dentro de mim. Foram muitas vezes que me olhei no espelho e disse a mim mesma “agora você não tem mais o direito de cair, você é o próprio chão de alguém”.

E nessa onda turbulenta a qual faço o favor de desromantizar a sua parte sombria, eu digo:  – mergulharia de novo.  Essa é a segunda resposta categórica para as minhas amigas.

Nem por um segundo eu deixaria de ser mãe. Não estou falando apenas do maior dos amores que pude sentir por um outro ser, estou falando que o Tsunami Manuela fez nascer uma versão minha que eu não conhecia. A melhor de todas as minhas versões.

A maternidade te obriga a extrair o melhor de si. Você não pode se entregar a dor, tampouco ser displicente com a vida.

Você passa a olhar mais vezes para os dois lados antes de atravessar a rua. Separa o lixo orgânico do reciclável. Se torna mais culta e humana.  Fala “obrigada” como um mantra. Lê sobre feminismo, magia e meditação. Começa a ter gula de vida, porque é seu dever extrair o mais lindo dela e ensinar a tua cria a sobre/viver. A maternidade te faz mais intuitiva, mais felina e mais sexy, por que não?

Nos tornamos um bicho auto adaptável que tem um dom extra “do sentir”. Deve ser por isso que dizemos “mãe sente”. Aliás, nenhum verbo conjuga tão bem com a maternidade como o sentir.

Você simplesmente sente. Sente a cólica, sente a fome, sente o coração ferido. Sente o primeiro tombo, o primeiro amor, a primeira decepção. Sente o riso, a lágrima, o dente. Sente os batimentos. Sente um ser que mesmo fora do seu corpo, pulsa dentro de você. Algo místico, físico e animal.

Mãe é Deusa, sem mais.

Fernanda Padilha

Advogada, professora, especialista em Direito de Família e Sucessões e Doutoranda em Direito Civil pela Universidade de Buenos Aires, Argentina.

Escritora do Projeto Cultural Útero (Projeto aprovado pela Administração Pública Municipal e que tem como objetivo abordar pautas feministas de forma artística).

Amante da arte e defensora dos emocionados. Acredita no poder desmistificador das palavras e na força revolucionária do afeto.

  fernanda.padilha.ppndadvogados@gmail.com