Agaquê

23 de agosto de 2022

Agaquê Entrevista: conversa com autor Fabien Toulmé

É com muita alegria que entrevisto um dos artistas que mais admiro! O quadrinista francês Fabien Toulmé, que esteve recentemente no Brasil participando como convidado do FIQ 2022.

Fabien, qual é a sua primeira lembrança relacionada aos quadrinhos? Você lia muito quando criança?

Eu lia muito, apesar de não ter muitos em casa. Eu me lembro de crescer lendo alguns álbuns do TinTim, Lucky Luke e Asterix e Obelix. Mas o que eu mais lia era do Tintim mesmo, eu lia e relia cada volume dessa série e tentava entender como se contavam histórias. Eu desenhava o cavalo do Lucky Luke, o Jolly Jumper (risos).

O que te trouxe ao Brasil? Você atuava como engenheiro na época?

Eu vim para o Brasil porque a faculdade de Engenharia Civil que, na época, eu fazia na França, tinha um convênio com algumas faculdades ao redor do mundo. E como o Brasil também tinha convênio com algumas faculdades, acabei escolhendo a UFPB (Universidade Federal da Paraíba) pela localização: perto do mar, do calor e com sol.

Passei 1 ano estudando e acabei criando um vínculo muito forte com o país. Foi nessa época que conheci quem veio a se tornar minha esposa. Depois ainda morei em Natal e Fortaleza.

Foi aqui no Brasil que você conheceu sua esposa. Quando decidiu mudar radicalmente de profissão, virar um quadrinista, ela te apoiou? Como foi esse processo?

Sim, tive muito apoio! Ela viu que eu não estava muito bem resolvido na minha profissão como engenheiro e me incentivou a fazer o que me deixasse melhor, que é o que os casais fazem, apoiam um ao outro.

Então, eu trabalhei como engenheiro por 12 anos e eu sentia que não gostava muito e sempre me perguntava se não era porque eu estava começando. Então, passei por algumas empresas diferentes para ver se melhorava essa sensação, até que chegou uma hora que eu vi que não gostava mesmo e que eu teria que partir para outro ramo, porque não gostava da vida que estava levando.

Na época eu morava em Fortaleza, era gerente de uma empresa francesa, que tinha filial aqui, de Construção Civil, e simplesmente em um belo dia eu resolvi deixar esse trabalho e tentar a vida de quadrinista na França. Voltamos todos para lá e deixamos o Brasil.

Você sempre teve a vocação para o desenho? Em que momento começou a fazer quadrinhos?

Eu acredito que sempre tive facilidade com a contação de histórias com desenhos, com imagens, porque realmente quando eu comecei a ler quadrinhos eu tentei fazer igual e criar meus próprios quadrinhos. Eu era muito novo, tinha algo entre 6 e 7 anos e já queria contar história com desenho. Talvez fosse uma forma de brincar contando histórias porque, na época, não tinha internet, celular ou videogame.

“Não era você que eu esperava”, uma obra maravilhosa e encantadora, que fala sobre sua filha que nasceu com Síndrome de Down, foi o seu primeiro grande desafio com os quadrinhos? Como foi embarcar nesse projeto?

Foi o meu primeiro projeto profissional. Depois que eu deixei a Engenharia… aliás, eu não deixei a engenharia logo de cara, eu deixei o Brasil e um cargo de muita responsabilidade, em que eu tinha que me dedicar muitas horas por dia. Na França, eu tinha um cargo de engenheiro um pouco mais “leve”, justamente para que eu pudesse ter o tempo necessário para fazer essa transição para os quadrinhos, enquanto continuava ganhando um salário fixo. De outra forma seria impossível largar tudo e começar uma nova vida.

Eu comecei a ter tempo para estudar desenho em casa e fui progredindo. Logo, estava publicando desenhos em algumas revistas e vi que estava começando a ter saída. Foi aí que comecei com esse projeto! Eu embarquei nele com muita empolgação, é uma sensação incrível poder realizar e concretizar um sonho de infância. Eu assumi isso sem medo, sem dúvidas, fiz com muita motivação porque era a grande oportunidade que eu tinha para deixar realmente a Engenharia de lado.

Sua obra preferida é sempre a última em que trabalhou ou tem alguma especial?

É muito difícil essa pergunta, porque em cada livro que eu faço, vejo qualidades e vejo também defeitos. No meu caso, eu acho que acabo vendo mais os defeitos (risos), porque tenho uma certa exigência com o meu trabalho. Mas eu costumo comparar como comparamos os filhos, por exemplo: é muito difícil você dizer qual você prefere. Meus livros são diferentes e por detalhes específicos de cada um deles gosto de todos.

Em “A Odisseia de Hakim”, você sabia que seriam 3 volumes? Tem muitos fatos que optou por não publicar?

Não sabia que seriam 3 volumes, eu fui construindo a história e aí vi que seriam os três. Não tiveram fatos que ocultei, durante minha entrevista eu tentava direcionar para onde eu queria para poder contar a história.

Quando morou no Brasil, chegou a fazer algum projeto com autores brasileiros?

Não, nessa época eu só estava abrindo os olhos sobre essa necessidade, essa vontade de fazer quadrinhos, mas não cheguei a concretizar nenhum projeto.

Como foi a sua participação na FIQ? Foi seu primeiro evento no Brasil?

Eu já tinha participado de eventos no Brasil. Em 2018, fiz uma turnê por São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, era o começo da minha carreira e já dava para sentir o carinho dos leitores brasileiros, mas dessa vez no FIQ foi realmente além do que eu imaginava, porque eu vi não só o carinho que o brasileiro tem pela minha obra, mas o gosto que os leitores têm pelos quadrinhos. Eu achei fantástico!

Na França existe esse mesmo gosto, mas pelas muitas opções de eventos para encontrar autores, talvez a intensidade seja menor que no Brasil.

Eu adorei e, inclusive, estarei de volta em dezembro para a CCXP em São Paulo.

Já tem um novo projeto em andamento?

Sim, tenho um projeto que já foi pulicado na França que se chama “Em Luta”, que são reportagens que falam de pessoas que lutam pelos seus direitos. São entrevistas que fiz nos países em que encontrei essas pessoas. No Brasil, sairá em 2023 pela NEMO.

Paulo Lisboa

Quer acompanhar e ficar por dentro do universo das histórias em quadrinhos? Siga a página AGAQUÊ no Portal Sorocaba.com e no instagram @agaque.

Sou pesquisador, leitor e trabalho com quadrinhos desde 2008. Editei e diagramei mais de 50 títulos como freelancer para editoras nacionais, entre eles The Walking Dead / Os Mortos-Vivos, Spawn, Concreto, The Rocketeer, entre outros.

Em 2015 junto com alguns amigos, lançamos a Editora EDDA e publicamos “Biosfera Poética” e “Mishto” e participamos das principais feiras do meio como FIQ em Belo Horizonte-MG, Comic Expo em Santos-SP e Ilustradoria em Sorocaba-SP.

Fui palestrante no 1 CONAHQ – Congresso Nacional de Histórias em Quadrinhos (2016 – Recife-PE) com o tema “Nos Bastidores de uma HQ e para a Universidade Belas Artes (2020 – Sorocaba-SP) com o tema “Bastidores da diagramação de quadrinhos”.

Vamos juntos então?! Acompanhe as notícias do mercado, lançamentos e aproveite para ver alguns dos projetos realizados em @lisboa_editorial

  leia@agaque.com.br