Imagem: Carla Llanos
Hoje eu estava lendo um texto de uma amiga e me deu um gatilho para falar de sororidade.
Ela, que está em torno de dois mil quilômetros de distância, “en la ciudad de la furia”, com seu jeito vibrante e peruano, parece que me abraçou com algumas de suas palavras. E, entre tantas coisas que traduzem a sororidade, o meu primeiro encontro com essa “chica” poderia ser a materialização dessa tradução.
Conheci Irene em um bar em Buenos Aires, desses que a música toca tão alta que parece criar um batimento cardíaco alternativo. Sabe quando você sente a batida da música no peito?
Nosso pacto de sororidade se iniciou no banheiro daquele bar, com a maquiagem no queixo, cílios postiços descolados, “una boteja” e uma empatia gratuita. Depois disso, criamos nosso ciclo de acolhimento com vinho, poesias, cartas, encontros anuais e regalos que fazem ponte Buenos Aires/Brasil.
Sabe, acho que nós mulheres deveríamos levantar com mais frequência a bandeira da empatia gratuita. Já que com a maior facilidade criamos nosso patético “campo minado”.
E assim poderíamos, com o menor pudor possível, sermos pioneiras do rompimento dessa barreira imaginária. Afinal, somos feministas ou apenas reproduzindo o discurso da massa?
Então, eu me questiono se é possível falarmos de feminismo sem mencionar a sororidade. Se não seria desproporcionalmente antagônico lutar pela igualdade de gênero sendo que discriminamos, diariamente, umas às outras.
Não, a Maria não tem um bom cargo só porque é linda. A Beatriz não é puta porque gosta de roupas ousadas. A Carolina não é esnobe porque é a mais inteligente. Essa lista de frases clichês são somente uma arma contra a nossa própria luta.
Fomos ensinadas a sermos filhas da rivalidade, regidas pela insegurança e autossabotagem.
Mas hoje eu desejo que a nossa revolução comece como meu pacto e de Irene, em um banheiro de bar, dando conselhos e abraços gratuitos para uma desconhecida. Que seja dotada de elogios sinceros para mulheres extraordinárias.
Que a gente possa aprender a brilhar sem querer apagar a luz da outra e, ainda, faça um motim de luzes pisca-pisca. Sabe aquelas bonitas que iluminam algum cantinho escuro? Que entrelaça fotos de polaroid em um mural colado na parede? Que a gente se transforme em algo parecido, gerando uma corrente elétrica de afeto. Que a gente seja o palco de vozes femininas.
E que por fim, a gente compreenda que somente será possível uma revolução quando o nosso grito for as nossas MA?OS DADAS!