Elos, Fatos & Afagos

8 de fevereiro de 2024

Flamenco: el baile do povo subalternizado personificado no gênero oprimido.

O flamenco existe nas minhas recordações mais infantis. Ciganas pintadas pelas mãos da minha avó colorem as paredes das minhas lembranças.

A minha ancestralidade vem marcada de mulheres cuja linha de expressão parece que desenha o destino, sangue de Andaluzia, batom vermelho, e a coragem de quem leva uma rosa no peito. 

Ciganas, bruxas, mulheres. 

O flamenco brincou de golpe, tacón, tacón, golpe, precoce. 9 anos de idade e lá estava eu reverenciando as mulheres que bailaram antes de mim no espelho de algum passado. 

Com a postura de quem sabe atravessar o mundo, mãos que hipnotizam o movimento, pés que sapateiam no patriarcado, um corpo que resiste e baila incendiado. O flamenco, mais do que uma expressão artística, é um protesto.

A dança que bailava com o fogo surgiu em meados do século XV na região de Andaluzia, sul da Espanha, em um contexto de dominação (Península Ibérica estava sob domínio dos Mouros) e foi marcada pela de povos miscigenação imigrantes, como ciganos, árabes e judeus. Era um beijo de raças que resistiam as relações de subalternização.

Aos meus olhos, é uma dança feminina. Não, não visto capa do sexismo, tenho completa consciência da participação do gênero masculino nesses séculos de dança. Mas, quando penso no flamenco, vejo a força do feminino. Vejo as 9 luas nas pontas dos dedos de quem baila com marés. O lábio rubi de quem dita a sabedoria. A coragem sedutora de quem pare a luz do mundo.

Flamenco é “El baile” do povo subalternizado personificado no gênero oprimido. 

E me desculpe o tal enredo patriarcal, 

mas o flamenco é uma mulher.

Fernanda Padilha

Advogada, professora, especialista em Direito de Família e Sucessões e Doutoranda em Direito Civil pela Universidade de Buenos Aires, Argentina.

Escritora do Projeto Cultural Útero (Projeto aprovado pela Administração Pública Municipal e que tem como objetivo abordar pautas feministas de forma artística).

Amante da arte e defensora dos emocionados. Acredita no poder desmistificador das palavras e na força revolucionária do afeto.

  fernanda.padilha.ppndadvogados@gmail.com