Elos, Fatos & Afagos

23 de janeiro de 2023

Freud e Meu primeiro amor.

A psicanálise explica que a partir da relação traçada com os nossos pais estabelecemos as diretrizes do amor.

O chamado “Complexo de Édipo”, ou, em um contexto feminino, o Édipo invertido, conhecido popularmente como “Complexo de Electra”, aborda como a criança do sexo feminino, quando se torna mulher, é automaticamente atraída por pessoas que possuem características do seu pai. Em outras palavras, o seu “primeiro amor”, dita a imagem de todos os outros.

Tal conceito me fez ficar pensando por horas no meu pai e no quanto eu tive sorte em ter ele como o espelho de amores.

Na verdade, quando digo espelho de amores, fujo um pouco da teoria de Freud, pois digo que meu pai não foi só uma referência do amor romântico, mas como de todos os tipos de paixões que laçaram e laçam a minha vida. Aliás, falando nisso, friso mais uma vez a palavra sorte.

Sabe, esse “cara” que ditou as diretrizes do amor para mim é o cara mais sensível que eu conheço. É também o “cara” que nunca me disse para trocar de roupa por não estar adequada. É o “cara” que chora ao pedir desculpas e, a propósito, para ele tirar o orgulho da frente parece algo tão simples que soa quase como dar um beijo na testa. É o tipo inteligente, mas que desdenha da soberba. Ele tem música em todos os poros. Samba no pé e nas pontinhas dos dedos. Tem um coração que bate feito o olodum, o que contraria a sua pele branca.

É o “cara” chora com musical da Disney e programa clichê de domingo. Também chora ao me ler e chego a pensar que ele acha a lágrima coisa bonita. É o cara que sempre me ouve e não importa quão errada eu estou, ele escuta a minha voz com a mesma devoção que toca a sua timba.

É o “cara” que não colocou rédeas no meu mundo, não reprimiu o meu sexo, deu plateia e eco para os meus sonhos. Me ensinou a venerar Vinícius. Embalou a minha infância com bossa e roda de samba. Se atirou comigo em tirolesas baianas. Foi mentor do meu ser livre.

E no ato de educar e ser, ditou paixões sobre as quais, se eu tivesse escolha, repetiria mais uma vez todas as suas diretrizes inconscientes.

Pai, eu te escolheria como primeiro amor de novo!

A primeira imagem foi através dos meus olhos (dei a minha filha a mesma sorte de ter na paternidade um espelho bonito do que é o amor). As demais fotos foram retratos feitos pela minha amiga em Londres. Ela me relatou que era incontrolável a necessidade de fotografar o quanto a paternidade exala de um jeito bonito por lá… “pai e amor por toda parte”.

Fernanda Padilha

Advogada, professora, especialista em Direito de Família e Sucessões e Doutoranda em Direito Civil pela Universidade de Buenos Aires, Argentina.

Escritora do Projeto Cultural Útero (Projeto aprovado pela Administração Pública Municipal e que tem como objetivo abordar pautas feministas de forma artística).

Amante da arte e defensora dos emocionados. Acredita no poder desmistificador das palavras e na força revolucionária do afeto.

  fernanda.padilha.ppndadvogados@gmail.com