Começo fazendo uma confissão, afinal, para alguém que vive reclamando da falta de tempo, confesso que acabo de passar algumas horas buscando uma cena da novela mulheres apaixonadas.
Lembro que a cena tinha sido interpretada pela atriz Christiane Torloni e eu, no auge dos meus 10 anos, a fixei na mente de uma forma tão sobrenatural para uma menina que achei justo perder minhas últimas horas nessa “caçada desenfreada”. O resultado? Nenhum! Já estou quase acreditando que o capítulo foi escrito pela mente fértil de uma pré-adolescente, hahaha.
Brincadeiras à parte.
Mas, Helena, (personagem interpretada por Christiane), se intitulava uma mulher apaixonada. Mas não se referia a paixão pelo outro. Ela se dizia apaixonada pela própria paixão.
E embora naquele momento eu ainda fosse abraçada por todo o conceito do amor romântico, (cuja origem poderia ser explicada em todos os filmes mela cueca que assisti ao longo da minha, até então, “década de vida”), senti o ruído daquela frase.
Hoje, também ouço o eco.
É que acho que pessoas como Helena são um tipo de serotonina,
conseguem caminhar em todos os tempos verbais e poderiam fazer morada no gerúndio, pois estão sempre “sendo”.
São ruidosas e vivem em constante sede.
Para esse tipo de gente, paixão não é um estado, é predicativo do sujeito.
São alimentadas pela libido que é conjugar o verbo viver. São do time do mergulho. Da mudança de rota. Do beijo na chuva. Do diploma no baú e pé na areia ou diplomas na parede e nova profissão na terceira idade, por que não?
Pessoas que colocam fogo na cama. No título. No morno. Moram nos minutos antes do palco ou no segundo que antecede o beijo.
São doses de serotonina. Caos que impulsiona. Tequila antes da pista. Filhos fiéis do próprio s-e-r.
E, sobretudo, xotes de vida.
(…)
Por uma garrafa inteira delas!
Fernanda Padilha
Advogada, professora, especialista em Direito de Família e Sucessões e Doutoranda em Direito Civil pela Universidade de Buenos Aires, Argentina.
Escritora do Projeto Cultural Útero (Projeto aprovado pela Administração Pública Municipal e que tem como objetivo abordar pautas feministas de forma artística).
Amante da arte e defensora dos emocionados. Acredita no poder desmistificador das palavras e na força revolucionária do afeto.
fernanda.padilha.ppndadvogados@gmail.com