Foto de Karsten Winegeart na Unsplash
Subindo as últimas três escadas antes de chegar ao meu apartamento me deparei com a nova vizinha.
Ela estava com um aplicativo aberto, não pude deixar de observar.
Ela falava sozinha: “acho que vou tirar a idade e deixar só que tenho pós graduação”.
Ela ergueu os olhos assim que notou minha presença e sorriu, voltando a teclar na sequência.
Entrei em casa e fiquei pensando nas várias definições que temos ou somos (se é que somos).
A profissional mais foda do LinkedIn.
A garota mais interessante do Tinder.
A melhor em argumentos sobre todos os assuntos aleatórios que não fazem o menor sentido, no Facebook.
A pessoa com a vida mais agitada e Instagramável de você sabe onde.
Mais um aplicativo.
Mais uma descrição que nada descreve.
Mais uma definição própria que nada define.
Mais um anúncio de venda sobre a própria imagem e que nada tem a ver com a minha realidade.
São tantos títulos de formação, tantas especialidades que não torna ninguém de fato especial.
Quem sabe se pudéssemos colocar como preferência o nascer ou o pôr do sol, ou qual constelação lembra a sua pessoa favorita no mundo.
Se pudesse citar, ao invés de Shakespeare, o que aprendi de mais valioso com a nona?
Se fosse importante falar de quantas vezes acreditei que o mundo ia acabar e no dia seguinte estava tudo bem, sim, eu deixaria na descrição.
No fim, todos queremos ser importantes aos olhos de alguém que dê uma incrível e sensacional oportunidade, seja o emprego ideal, o amor perfeito, a melhor viagem…
E nunca cabemos na expectativa do outro.
Nos apequenamos.
Nos esquecemos
Nos encolhemos.
E jamais seremos nossa própria essência diante daquilo que nos obriga ao perfeccionismo de não ser imperfeito.