Ainda não sei, mas vou saber

20 de julho de 2023

Imperfeitos

Foto de Karsten Winegeart na Unsplash

Subindo as últimas três escadas antes de chegar ao meu apartamento me deparei com a nova vizinha.

Ela estava com um aplicativo aberto, não pude deixar de observar.

Ela falava sozinha: “acho que vou tirar a idade e deixar só que tenho pós graduação”.

Ela ergueu os olhos assim que notou minha presença e sorriu, voltando a teclar na sequência.

Entrei em casa e fiquei pensando nas várias definições que temos ou somos (se é que somos).

A profissional mais foda do LinkedIn.

A garota mais interessante do Tinder.

A melhor em argumentos sobre todos os assuntos aleatórios que não fazem o menor sentido, no Facebook.

A pessoa com a vida mais agitada e Instagramável de você sabe onde.

Mais um aplicativo. 

Mais uma descrição que nada descreve.

Mais uma definição própria que nada define.

Mais um anúncio de venda sobre a própria imagem e que nada tem a ver com a minha realidade.

São tantos títulos de formação, tantas especialidades que não torna ninguém de fato especial.

Quem sabe se pudéssemos colocar como preferência o nascer ou o pôr do sol, ou qual constelação lembra a sua pessoa favorita no mundo.

Se pudesse citar, ao invés de Shakespeare, o que aprendi de mais valioso com a nona?

Se fosse importante falar de quantas vezes acreditei que o mundo ia acabar e no dia seguinte estava tudo bem, sim, eu deixaria na descrição.

No fim, todos queremos ser importantes aos olhos de alguém que dê uma incrível e sensacional oportunidade, seja o emprego ideal, o amor perfeito, a melhor viagem…

E nunca cabemos na expectativa do outro.

Nos apequenamos.

Nos esquecemos 

Nos encolhemos.

E jamais seremos nossa própria essência diante daquilo que nos obriga ao perfeccionismo de não ser imperfeito.

Aline Amorim

Jornalista, Pós-graduada em Acessibilidade, Diversidade e Inclusão, mãe de meninas e pets.