Este filme tenta evocar a vida do músico Leonard Bernstein. Ele nos oferece alguns vislumbres de sua carreira, interações sociais e casamento. Cada cena neste filme é muito casual e tranquila – mesmo aquelas em que o artista discute com sua esposa ou cheira cocaína: há uma certa leveza em cada plano, em cada quadro. Estranhamente, eu senti que a estrutura desse longa-metragem se assemelha a uma árvore: a estória central, verdadeira – o tronco – não é visível; apenas conseguimos entrevê-lo através dos acontecimentos soltos da obra – suas folhas – que boiam em volta.

            É interessante que um filme sobre um compositor seja, em si mesmo, meio musical. Quase todos os diálogos neste trabalho, se fossem escritos, poderiam ser lidos como poesia. No entanto, se você não estiver prestando muita atenção, pode não perceber a densidade do roteiro: mais uma vez, cada ator pronuncia suas falas tão descontraidamente ou fluentemente que você pode confundir o que estão dizendo com futilidades insignificantes. – Essa é a leve musicalidade que flutua ao longo desta obra.

            Existe uma cena, no entanto, em que Bernstein finalmente alcança seus objetivos profissionais como maestro, e uma certa gravidade meio que encharca o clima da narrativa. Foi muito estranho ver seu momento de sucesso ser mostrado tão sinistramente. Talvez o poder ou a satisfação completa corrompa as pessoas… (Além disso, enquanto sua sombra parece crescer sobre sua esposa à medida que ele se torna maior e maior no palco, você pode sentir que suas conquistas como maestro o afastarão inevitavelmente de sua família.)

            Mas, no final, tudo é tão poético, tão musical, que até mesmo essa barreira entre ele e sua esposa e filha é superada. Seu próprio estilo de vida quasi-libertino é perdoado por sua família, pois entendem que ele não pode viver sob o peso das restrições sociais. Para ele, seria feio ceder a tal pressão e silêncio. Seria “antimusical” fazer isso, ele diria.

            Bem, há alguma metafísica em “Maestro”? Se houver, ela se baseia na ideia de que a existência pode ser criativa e artística. Que uma simples conversa pode ser literária. E que nossos olhos podem conter pinturas inteiras – você só precisa prestar atenção.

            Michael Gartrell                       2024

Michael Gartrell

Formado em filosofia, hoje levo adiante um doutorado sobre a história da percepção. Escritor e acadêmico voltado para pintura e cinema.

A arte, muitas vezes, é inconsciente da realidade que ela manifesta. Estamos aqui para entender o que ela tornou visível mas se recusa a enxergar.

  michael.gartrell@hotmail.com