Ele vestia uma camiseta com a palavra “Yeshua”.
Estava com a barba grisalha por fazer, roupas sujas e um saco preto, provavelmente com seus pertences.
Chegou ao ponto de ônibus acompanhando uma senhora.
Como eu estava distraída ouvindo “Take on me” e pensando em como seria o dia, demorei a notar que não era uma mera companhia daquela mulher, mas alguém que a acompanhou durante seu percurso, de forma voluntária.
Ela estava claramente ansiosa para que seu ônibus chegasse e desse um fim natural àquela conversa.
Mesmo assim, notei que ela também ria quando o senhor barbudo – que exalava um odor de quem vive há tempos abandonado à própria sorte – quando lhe disse: “eu empurraria um cadeirante magro ladeira acima, mas um gordo não, sabe por que? Porque não aguentaria”.
Ela achou que estava se referindo ao peso corporal, mas logo em seguida aquele homem reforçou seu pensamento.
“Deus não dá o fardo maior do que podemos carregar, e eu sei o que posso carregar”.
Não era o fardo físico, era o da alma.
Ele falava e sorria, não parecia ter ali alguma dor do aprendizado, nem sequer sequelas de noites dormindo ao relento, tendo como único bem o saco de plástico que estava em suas mãos.
Eu desejei, curiosamente, entender o olhar daquele homem que não tinha mais de 1,60 de altura, mas enxergava a vida grandiosamente.
Será que o pequeno grande senhor barbudo que vestia a camiseta escrita “Yeshua” sabe o que essa palavra significa?
Será que ele sabe sobre a salvação da alma?
Será que ele entende o poder da salvação pelas palavras?
Tenho pra mim que ele é o próprio “Yeshua” disfarçado de um ser humano que poucos notam a existência.
Sujo, pobre, abandonado, conversando sobre fardos e fé, antes das oito da manhã em uma segunda-feira fria, ensinando sobre fé, sobre acreditar, sobre dar conta daquilo que a vida é.