Contrariando a geografia, eu diria que o Rio não é uma cidade. O Rio é um sentimento. Uma espécie de paixão autossuficiente e compulsória que contraria a química do meu corpo e nasce em poros diferentes toda vez que a gente se encontra.
Ele tem uma mania abusiva de me fazer olhar para vida. É que São Paulo me engole e o Rio prefere que eu mastigue 30 vezes. Deguste. Saboreie. Uma tática ardilosa e precisa que posso chamar de “viver”.
Tem uma malícia que canta bossa no pé do ouvido e uma voz feminina que me diz que o amor pode esperar mais um samba.
Gosta de me chamar para arder às manhãs. Um convite irrecusável para maratonar meus olhos nos exercícios alheios. Yoga. Surf. Boxe. Vôlei. Beach Tennis. No posto 6 tem uma senhora frenética dançando um hit do “furacão 2000”. Pausa. Água de coco. Açaí com espuma de leite ninho. É 9 Am e seu Zé diz que já pode descer uma breja. Pô, Rio.
As Ruas cariocas falam comigo. O poste disse que o amor atrai. A parede de Santa garantiu que é a nossa meta encontrar o fogo e mantê-lo acesso. A cantora do Portella tinha voz mansa e fazia do pandeiro violão. Era apenas 13h35 e eu já estava ardendo vida. Caipirinha de Caju e caldo de feijão preto em uma xícara branca do Jobi.
Tem maresia boêmia. Cidade e serra. Mas entre um prédio e outro quem arranha o céu é o Pico da pedra branca. O Rio também cheira arte. Talvez por isso ele é quase um rapaz descolado para mim. É tão artístico que chego a concluir que não é arte que o alimenta e sim o contrário.
O Rio é um samba a dois. É o tipo que sabe dar beijo no cangote que arrepia. Que te segura forte na cintura, mas também tem a doçura de te chamar para se deitar no peito e ouvir batimentos livres.
O Rio é dopamínico.