Elos, Fatos & Afagos

17 de abril de 2023

Olhos de barriga cheia.

Dentre tantas coisas que desejo ensinar a minha filha, manter os olhos abertos, a ponto de devorar o mundo, é uma delas.

Mas não é qualquer tipo de olhar faminto. É o olhar que devora, mas saboreia. Que come além do que se vê, que vê além do que se sente. Quero olhinhos dispostos a se despirem e que, vez e sempre, vistam-se do outro.

Uma vez, um amigo me disse que quanto mais pessoas diferentes de nós conhecemos, mais conhecemos a nós mesmos, pois o diferente é um mergulho em si.

Depois de algumas voltas, de alguns olhares esfomeados e nus, entendi a etimologia de cada palavra e a frase virou mantra.

É que no fim, somos um conjunto bonito e aleatório do que nossos olhos comeram. De um “diferente” que se tornou fragmento cerne.

Por isso, para a minha menina, eu desejo olhos de barriga cheia. Olhos com fome de vida, porém sempre saciados.

Desejo amores pelos 4 continentes. Uma mente que goste de brincar de fotógrafa. Que fotografe o cheiro de palo santo em uma tarde porteña de abril. Uma garfada de pasta alla Carbonara em algum restaurante com toalha vermelha xadrez, na Via del Corso. Um beijo molhado com gosto de litoral e verão. O som do riso solto de uma amiga bêbada no chão da sala. Um desconhecido deitado no Jardim de Tuileries e fazendo amor com o seu livro favorito.

Uma mente que eterniza o belo. Um olhar faminto.

Tipos de coisas, minha filha, que te salvam e salvam o mundo.

Fernanda Padilha

Advogada, professora, especialista em Direito de Família e Sucessões e Doutoranda em Direito Civil pela Universidade de Buenos Aires, Argentina.

Escritora do Projeto Cultural Útero (Projeto aprovado pela Administração Pública Municipal e que tem como objetivo abordar pautas feministas de forma artística).

Amante da arte e defensora dos emocionados. Acredita no poder desmistificador das palavras e na força revolucionária do afeto.

  fernanda.padilha.ppndadvogados@gmail.com