Elos, Fatos & Afagos

12 de julho de 2023

“Si quieres que algo se muera: déjalo quieto.”

Ouço Jorge Drexler fazer poesia com as notas enquanto me concentro no quase silêncio dos meus pensamentos. Fixo-me com certa obsessão na décima segunda estrofe: “Si quieres que algo se muera: déjalo quieto”.

Bailo no poder do omisso, na voz compassiva do silêncio.

Se de um lado ele vem como anjo pacífico de grandes tempestades, do outro ele vem como moço trajado de lacuna.

Arma infalível, acoite do fim da dor…

e do amor.

Sabe, fui ensinada desde criança a ser amante das palavras. Nada em casa se calava. Se não era através da voz, era através das cartas. Quando brigávamos, no dia seguinte, havia uma folha de caderno, embaixo da porta meu quarto, com rebarba e uma letra um pouco trêmula de sentir escrita a caneta bic.  

Recebi diversas cartas e escrevi centenas delas durante a minha vida. Cartas da minha mãe, do meu irmão e quanto ao meu pai, ele fugia do papel, mas sempre tinha o que dizer. De um jeito mais simples, sentava-se no pé da minha cama e fazia oferta a uma boa conversa olhando nos olhos.

Desde muito cedo aprendi que amor não se cala, que conflito a gente resolve falando o que sente e dando espaço para a dor do outro.

No entanto, não fiz do silêncio meu inimigo.  Com os anos, aprendi que ele é vírgula sábia, banho de água fresca quando tua pele queima. Ele é um domador necessário do meu cavalo arredio.

Mas, compreendi que quando ele ocupa muito espaço, quando insiste em ser três pontinhos brincando nas minhas linhas, quando silencia a minha voz e domina a minha caneta, é porque nada mais me move ali. O silêncio matou o que sinto.

As pessoas deveriam subestimar menos o não dizer. Das armas que eu conheço, é mais infalível contra meu e o teu peito. O silêncio é tão revestido de faltas que poderia beijar na boca a inexistência.

É que, meus caros, uma premissa é verdadeira:

“Si quieres que algo se muera: déjalo quieto,”

pero, si quieres que algo viva y te encienda: dilo.

Foto:  @prii_barbosa

Fernanda Padilha

Advogada, professora, especialista em Direito de Família e Sucessões e Doutoranda em Direito Civil pela Universidade de Buenos Aires, Argentina.

Escritora do Projeto Cultural Útero (Projeto aprovado pela Administração Pública Municipal e que tem como objetivo abordar pautas feministas de forma artística).

Amante da arte e defensora dos emocionados. Acredita no poder desmistificador das palavras e na força revolucionária do afeto.

  fernanda.padilha.ppndadvogados@gmail.com