Nostalgia é o prazer da saudade ou ausência. Sentir a falta sem dor, mágoa ou culpa – isso é crucial para a experiência da “perda feliz”, do esquecimento por pura inércia, avulso e desmotivado.
O filme, portanto, precisa frequentemente nos lembrar quem os personagens são, o que eles fizeram e, acima de tudo, porque deveríamos nos importar com qualquer um deles.
“Top Gun: Maverick”, assim, é obrigado a se desenvolver em um espaço ficcional muito estreito: por um lado, se todos atores e atrizes são novos, a estória original, efeitos e estilo inovadores, perde-se a referência ao primeiro longa-metragem e a nostalgia característica e desejada em filmes sequenciados (sequels) se esvai; por outro, se o método narrativo se repete, a forma de montagem ou cadência vêm a ser idênticas e apenas averiguamos rostos, objetos, lugares já conhecidos, então presenciamos uma obra autônoma, totalmente desvinculada e desmeritada do título de ‘sequela’.
É exatamente por isso que o diretor usa incessantemente flashbacks, fotos antigas, conversas confessionais ou recordantes, piadas internas, reencenações, duplicações ou dobras, inserções indiretas etc. Seu objetivo é fazer você simultaneamente lembrar e esquecer o primeiro filme.
Necessitamos ‘lembrar’ para valorizar e fazer sentido daquele mundo inventado; e, somos forçados a ‘esquecer’ para ignorar e desentender a estrutura dessa mesma realidade, ou seja, para nos convencer de que aquele universo não era suficiente, independente, capaz de existir por si próprio.
A intenção final dessa continuação é provar sua razão de ser, demonstrar que certa explicação adicional era exigida, que outro desfecho foi, desde sempre, demandado pela audiência.
“Top Gun: Maverick”, tal como muitas outras partes segundas, quer roubar e distorcer suas memórias para criar algo inédito.