Não raramente eu ouço das pessoas que trato meus filhos como adultos ao mesmo tempo que sempre ouço “nossa, como são independentes!”. Eu adoro dar colo pros meus “bebês” mas eu acredito muito no potencial deles.
Quando vou explicar algo, eu uso palavras difíceis e termos técnicos. Claro que tenho que explicar cada um deles mas eu acredito muito que eles consigam entender a essência do conteúdo e que possam aprender e enriquecer seu vocabulário. Eu morro de rir quando a Mel, minha filha do meio, me diz: “Mãe, sem ofensas e sem querer me gabar mas…” hahaha. Acho demais ela usar essas e muitas outras expressões não comuns às crianças da sua idade. Certa vez, no carro, meu filho mais velho, no auge dos seus 3 anos e meio, olhou pra fora da janela do carro e disse: “Ixi mamãe, tá chuveno! Seiá que a Queionice lembou de fechai as janelas?” Eu caí na gargalhada, será que Benjamin Button estava sentado naquela cadeirinha? Eu sempre compartilho os meus pensamentos e os deixo participar de tudo o que eu faço. Ontem mesmo Maya e eu estávamos arrumando a minha caixa de ferramentas e eu a orientava qual compartimento deveria guardar as buchas, qual deveria guardar os parafusos e em qual seriam as brocas. Do jeitinho dela, com 1 ano e 9 meses, ela foi me ajudando. Com um “olho no peixe e outro no gato” pra não arriscar que ela colocasse nada na boca, eu confiava que ela poderia mexer em tudo aquilo. E foi ótimo! Uma hora de distração pra ela e uma caixa perfeitamente organizada pra mim!
Em janeiro, ela havia recém completado um ano, eu estava numa reunião em vídeo chamada na sala de casa (sentada no chão pra distraí-la com os brinquedinhos enquanto trabalhava). De repente eu fui acometida por uma cólica intestinal repentina e precisei me ausentar correndo da reunião. Voei pro banheiro quando me dei conta que precisaria tomar um banho imediatamente mas eu precisava avisar a minha colega de trabalho e então me arrisquei a pedir à Maya (que ainda andava feito pinguim) que pegasse meu celular lá na sala e trouxesse pra mim. Eu não sabia se ela entenderia porque na época ela não falava uma palavra mas o que eu tinha a perder? Ela só me olhou, saiu do banheiro e voltou com meu celular na mão!!! Sim! Ela entendeu exatamente o que eu havia pedido. Se eu não confiasse no seu potencial provavelmente eu não teria sequer pedido.
Vamos lá… você deve estar pensando: “Essa maluca tá querendo forçar a barra com os filhos! Tá querendo criar mini adultos!” e eu já vou logo me defendendo: “Jamé!”. Eu super acredito no brincar e os pedidos que faço ou as palavras difíceis que uso são de forma lúdica. Eles prestam atenção em tudo e adoram aprender. Bruno e Mel prepararam cupcakes e bolo sozinhos nesse último dia das mães e ficou incrível! Autonomia! Só precisamos dar autonomia pra que eles possam se desenvolver.
Outro episódio engraçado foi quando meu namorado (que não tem filhos) viu a Maya com 1 aninho pegando um controle de TV. Ele logo foi dizendo “não não! Esse não pode! Dá por Ma! E foi tirando da mão dela”. A bichinha ficou com cara de “ué! Pra que isso gente???”hahahahhahahahahaa. Eu olhei pra ele e disse: “não arrancamos coisas da mão aqui em casa, você pode pedir e explicar que esse não é de brinquedo. Pode dar na mão dela, vou te mostrar…”
Maya pegou o controle e eu disse: “Filha, esse é o controle da mamãe, você pode me entregar por favor?” e ela gentilmente me deu. Ele olhou espantadíssimo! “Olha só, um ser de 1 ano pode ser civilizado”. (risos) Isso serve para objetos perigosos, como faca, por exemplo. Pensemos juntos: se você simplesmente arrancar da mão, provavelmente vai gerar uma curiosidade e fazer com que a criança queira correr e explorar mais aquele objeto. Se por outro lado ele puder explorá-lo com sua supervisão e você ludicamente mostrar que ele pode se machucar com aquilo, provável que ele te entregue o objeto antes mesmo de você pedir.
Coloque o bebê no chão, deixe tentar subir a escada do escorregador sozinho, deixe-o tentar quebrar o ovo ou mexer a massa do bolo… Você vai se surpreender em descobrir que pra maioria das coisas ele não precisa que você o ensine, ele só precisa de espaço pra desenvolver suas próprias habilidades.
Maria Montessori dizia: “Nunca ajude uma criança em algo que ela acredita que pode fazer sozinha”.
No final, quem tem mesmo que aprender, somos nós!