Alternativa saúde

21 de dezembro de 2022

O CBD pode ser usado para tratar o vício em drogas?

O uso abusivo e a dependência de substâncias químicas são problemas globais. Transtornos por uso de substâncias, como dependência de drogas, são condições vulneráveis ao estresse, ansiedade e controle de impulso prejudicado. No Brasil, em 2021, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 400,3 mil atendimentos a pessoas com transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de drogas e álcool. O número mostra um aumento de 12,4% em relação a 2020, ano com 356 mil registros. Como o número de pessoas que sofrem de dependência de drogas no Brasil continua a aumentar, há uma necessidade crescente de novos e eficazes protocolos terapêuticos e tratamentos para a dependência.

O que é CDB?

Há um debate crescente sobre o uso médico legal de maconha e canabinoides. Embora tenham sido documentados usos bem-sucedidos de cannabis e seus derivados em um contexto médico, permanecem preocupações sobre seus efeitos colaterais de curto e longo prazo.

O canabidiol (CBD) é um constituinte da cannabis e, em sua forma mais pura, não é psicoativo e não causa dependência, tornando-o um candidato atraente para uso terapêutico. Pesquisas anteriores indicaram que o CBD pode ser eficaz quando usado para reduzir convulsões em pessoas com epilepsia e tem efeitos anti-inflamatórios e analgésicos. Agora, os pesquisadores concentraram seus esforços em investigar o potencial do CBD para controlar os desejos associados ao abuso de substâncias.

Evidências para o potencial papel no tratamento da dependência

Recentemente, o CBD recebeu muita atenção devido ao seu potencial para auxiliar no tratamento do abuso de drogas e álcool. A literatura enfoca o potencial farmacoterapêutico do CBD em termos de sua relevância na prevenção da recaída no uso de drogas. Acredita-se que o CBD seja eficaz no direcionamento de estados de risco de recaída no uso de drogas, reduzindo a ansiedade e o estresse relacionados às drogas e mediando a atividade antidepressiva. Além disso, o CBD tem um impacto nos circuitos cerebrais responsáveis pelo desejo por drogas e pelos comportamentos de busca desencadeados pelo contexto e pelo estresse relacionados às drogas.

Levando em consideração os efeitos neuro farmacológicos e comportamentais do CBD e seu impacto nos neurocircuitos que controlam o vício, as implicações do CBD para o desenvolvimento de novos tratamentos para o vício em drogas atraíram o interesse da comunidade de pesquisa, que investiga soluções terapêuticas para o vício em drogas e recaídas.

Um estudo com camundongos mostrou uma redução no uso de cocaína. Gonzales-Cuevas e colegas (Gonzales-Cuevas et al. (2018). Unique treatment potential of cannabidiol for the prevention of relapse to drug use: preclinical proof of principle. https://doi.org/10.1038/s41386-018-0050-8) investigaram o potencial do CBD em modelos animais de desejo por drogas, impulsividade e ansiedade. No estudo, ratos com histórico de autoadministração de álcool e cocaína receberam CBD por sete dias com intervalo de 24 horas. Os resultados deste estudo documentam duas dimensões do potencial do CBD.

Primeiro, o CBD teve um efeito nas condições de recaída, como sensibilidade ao contexto de drogas e estresse, controle de impulso prejudicado e ansiedade. Isso aponta para a capacidade potencial do CBD de refinar estados de vulnerabilidade que promovem recaídas em ratos. Em segundo lugar, os efeitos do CBD foram duradouros nos animais, independentemente do curto período de tratamento.

Um estudo recente publicado no American Journal of Psychiatry, liderado por Yasmin Hurd (Hurd, Y. (2017). Cannabidiol: swinging the marijuana pendulum from ‘weed’ to medication to treat the opioid epidemic. https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0166223617300012), demonstra ainda mais a capacidade do CBD de reduzir os desejos em pessoas com dependência de heroína. O estudo envolveu 42 mulheres e homens com histórico de abuso de heroína tentando se abster de uma recaída. Como parte do experimento, os participantes viram dois tipos de vídeos: vídeos neutros mostrando cenas da natureza e vídeos mostrando dicas relacionadas a drogas com o objetivo de desencadear o desejo por drogas. Os participantes foram divididos em três grupos: pessoas que tomaram 400mg de CBD, pessoas que tomaram 800mg de CBD e um grupo placebo. As intervenções foram realizadas durante três dias consecutivos. O experimento foi duplo-cego, o que significa que nem os pesquisadores, nem os participantes, estavam cientes de quais condições foram atribuídas durante o experimento.

Os participantes experimentaram desejos maiores depois de ver os vídeos relacionados à heroína em comparação com os vídeos neutros, como esperado. No entanto, os participantes que tomaram CBD como parte do tratamento relataram menos desejos de drogas do que as pessoas do grupo placebo após a exposição aos sinais relacionados às drogas. Os resultados também demonstram redução da ansiedade, bem como redução da frequência cardíaca e do cortisol, que é o “hormônio do estresse”. Os efeitos na intervenção foram visíveis uma hora após a administração do CBD e ainda eram visíveis até uma semana após a intervenção.

Conclusão

Infelizmente, a medicação disponível para dependência de opióides tem eficácia apenas temporária porque essas substâncias têm propriedades viciantes. O CBD pode fornecer uma maneira potencialmente alternativa de direcionar o vício em drogas sem causar mais dependência. No entanto, ainda há evidências limitadas para apoiar o uso do CBD no tratamento da dependência de drogas.

André Freitas Cavallini

Dr. André Cavallini, médico da Clínica Gravital.
@clinicagravital

Formado pela Universidade Cidade de São Paulo, com residência médica pelo Núcleo de Otorrinolaringologia, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, e Medicina do Sono de São Paulo.

Certificado Internacional em terapias à base de Cannabis, pelo GreenFlower Academy.

Membro da Associação Brasileira das Indústrias da Cannabis (ABICANN).